O Rei do futuro
e o laço de Elisa
Lavrador
Rio
de Janeiro, 14 de novembro de 1889.
Não
é possível soletrar Brasil sem dizer o meu nome, já teve saudade
de alguém quem nunca conheceu? Sei que toda utopia merece sólido
contexto, lhes dou tudo que tenho, meu mundo; Brasil como palco
desta. Para quem pediu um último livro escrevo três, mas neste
jardim de túmulos não vou dizer às flores dos frutos.
Eu
sou o futuro, um último instante de Brasilidade. Sou um
personagem-narrador desta história, no momento não vem ao caso
saberes da minha em particular, mas para narrar essa aventura preciso
começar do início cronológico mais plausível e ironicamente este
se dá no fim de um longo e proveitoso período do meu país, apenas
3 horas antes dos sinos da capela imperial anunciarem o dia 15 de
novembro de 1889.
À
praça que levaria o nome deste dia anoitece um homem encapuzado de
frente ao paço. Facilmente confundiria-se com um frei desembarcando
pela estação de barcas Rio-Niterói se não fosse por um detalhe,
aquele homem revelava-se uma mulher no delicado levantar do capuz.
Linda e dos seus 25 anos, Elisa caminha depressa cruzando a iluminada
Praça de Dom Pedro II até a Rua primeiro de março.
Nesta
quinta para sexta, não era café que o carioca bebia nos cafés,
mesmo assim a moça segue até uma taberna em frente à Igreja de
Nossa Senhora do Parto na rua São José. Foi a primeira vez que a vi
pois ocasionalmente seguia pela rua em minha carruagem. Não a
esqueço pois antes de entrar ela usou um smartphone preso à fivela
do cinto para alterar seu traje holográfico de uma túnica para algo
que eu descreveria como enlouquecidamente provocante.
Dentro,
o forte cheiro de tabaco, o estalar das bolas de bilhar e a bebedeira
dos presentes em sua maioria homens, pretos e brancos, contrasta com
a porcelana da pele dela que sem mais, pede uma taça de vinho. A
única outra moça do recinto era Francisca Edwiges mais conhecida
como Chiquinha Gonzaga que quase imediatamente a convida para sua
mesa junto aos amigos. Elisa aceita o convite para deleite dos
sentados, papo vai e papo vem até que Elisa solta o boato: -Soube
hoje à tarde que Visconde de Ouro Preto expediu uma ordem de prisão
a Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca. Para a perplexidade dos
boêmios seria necessário um assunto que mais combinasse com o teor
alcoólico da mesa, porém não impediu que militares presentes
ouvissem e repassassem o boato ao Marechal Deodoro que sentindo-se
ameaçado, poucas horas depois já estava liderando o golpe que
destronaria Dom Pedro II.
O Rei do futuro
Rio
de Janeiro, 15 de novembro de 1889 (No dia seguinte).
Às
5 horas da manhã a rotina no paço imperial de Petrópolis estava
agitada, Dom Pedro acordava cedo para aproveitar a luz do dia e
embora esta fosse a única residência da américa latina que possuía
um telefone que ligava-se à Portugal, e embora o Rio de janeiro
tivesse sido a única cidade da também américa latina e segunda do
mundo a possuir iluminação elétrica; no paço de Petrópolis
eletricidade não havia. Por isso, no primeiro raio de sol bacias de
prata lotadas d'água ziguezagueavam pelo corredor do segundo andar
junto às negras empregadas rumo aos aposentos do imperador. Era dia
de tratar e aparar a barba que lhe tanto coçava o Rei, sua filha
Isabel teria corriqueira honra da tesoura e navalha para fino trato
se não fosse aquele telefonema.
Embabado
de espuma para barba e babadores, nosso Pedro se levanta da
penteadeira da filha e corre ao aparelho que berrava, gritando -Eu
atendo, deixem que eu atendo!
Do
outro lado da linha: -Alô, Dom Pedro está?
Pedro:
-Sim, é ele, quem fala?
-Desculpe,
eu sei que isso parece estranho, você ainda não me conhece mas te
asseguro que seremos grandes amigos.
Nisso
um soldado da guarda Real Imperial chega a cavalo trazendo uma
mensagem ao imperador.
-Majestade,
trago-lhe uma mensagem urgente!
Dom
Pedro, da janela faz um gesto de silêncio com a mão esquerda ao
jovem no gramado do palácio, que insiste: -Majestade, a república
fora proclamada no Brasil e toda família imperial precisa sair do
país imediatamente ou aceitar as consequências!
Dom
Pedro pressiona ainda mais o aparelho ao ouvido direito enquanto
Isabel e Teresa se debulham em lágrimas e gritos desesperados.
Pedro:
-Mas quem é você?
No
telefone: -Eu sei que o momento não é dos melhores, mas me chamo
Cissa Guimarães, eu vim do futuro e estou presa no seu tempo e só
você pode me ajudar!
Antes
que o ex imperador do Brasil pudesse responder, o fone fora arrancado
de sua mão e toda família forçosamente descem de trem rumo ao
centro do Rio, sem saber que nunca mais voltariam para casa. No vagão
real, para acalmar sua Rainha e Princesas, Pedro tenta descontrair
dizendo: -Sabe o que ficaria bem num trem? –Telefone, imagine, eu
poderia já estar resolvendo esta pendenga a caminho do Rio. –Vou
ligar para meu amigo Graham Bell quando voltarmos à Petrópolis
ainda hoje para lhe sugerir a ideia.
Chegando
no paço, cerca de 300 militares renderam e obrigaram toda a família
imperial a zarpar em exílio à Portugal levando só a roupa do
corpo. Com excelente aprovação popular, principalmente pela recém
abolição da escravatura, executar os monarcas seria impensável,
assim como também dar continuidade ao projeto de bolsa família e
auxílio moradia aos 800.000 recém libertos, como pretendia o
Imperador. Não havia jeito, o Brasil estava condenado à
favelização, corrupção que no império foram apenas dois casos, e
uma república pateta.
Enquanto
a família imperial era banida para Portugal sob a flâmula da nova
ridícula bandeira brasileira que imitava a dos Estados Unidos em
verde-amarelo, no Rio, terminando sua última taça de vinho
passeando pelo vazio paço de golpe completamente nua sem o disfarce
holográfico, observando ao longe o navio Alagoas pela larga janela
do paço imperial, Elisa adentra à sala do trono, olha por alguns
segundos, avista a espada que pertenceu a Dom Pedro I exposta na
parede e com ela risca de ódio o quadro de Dom Pedro II jovem.
A
noite fria deste mar expulso contrasta com pedidos de ajuda em
garrafas lançadas por Princesa Isabel e Teresa Cristina futuramente
encontradas pela população que assistia bestializada a tomada da
república da espada. Nos Porões do navio Alagoas Pedro Augusto
urrava em crise. Ele havia sido tratado sob a doutrina espírita de
Hippolyte Léon (Allan Kardec) velho amigo da casa imperial que lhe
mantinha sadio até este dia, mas com a pesada realidade de não mais
se tornar Dom Pedro III do Brasil o neto tremia-se estirado no chão.
A noite cada vez mais trovejante fazia o navio tremer junto às
convulsões de Pedro Augusto, Dom Pedro desce e o tenta acalmar,
segura-o por dentre um manto, abraça e ao pé do ouvido dizendo ao
neto:
-Calma,
vovô tem um plano.
-Tem?
Que plano vô?
-Shhhhi,
fale baixo. Meu neto, por que acha que nunca cortei a barba?
-Sei
lá, sempre achei que fosse por que o senhor morde invertido e tem
esse queixão de babuíno.
-Não
seja estúpido Pedrinho, cultivo esta barba para poder mudar de rosto
imediatamente se preciso, lembre-se, faz 20 anos que meu rosto não é
visto por ninguém. -Existem planos para se construir uma estátua em
homenagem a sua mãe pela benfeitoria na assinatura da lei Áurea.
-Esta é a minha última carta da manga, com minha influência
consegui assegurar que o monumento ou parte dele fosse construído em
Paris, para onde vamos logo apos Portugal. -Retornarei irreconhecível
dentro dum cavalo de Tróia carioca.
-Mas
e se não der certo vovô? -Não teremos mais ninguém do nosso lado.
-Só
tenho uma palavra para isso meu neto, Redentor. Nisso a porta se
abre, passa por ela uma mulher que logo a fecha dizendo: -Esqueça o
Cristo Redentor, não vai funcionar.
Pedro
II: -Quem é você?
A
mulher: -Sou Cissa Guimarães, falei contigo agora pouco por
telefone, escutem. -Estamos presos num trem chamado Expresso Brasil e
só tem um jeito de sair dele!
Paris,
15 de novembro de 1889 (Ao mesmo tempo).
Em
Paris 4 amigos reuniam-se no humilde apartamento de Gustave Eiffel ao
topo de sua torre.
A
torre Eiffel estava particularmente um pouco mais escura nessa
sexta-feira, acredito que toda luz de Paris cabia dentro dela em sua
ponta no pequeno apartamento de Gustave: Graham Bell, Thomas Edison e
Nikola Tesla reuniam-se esta noite para o experimento científico
mais importante de suas vidas. Todos membros da sociedade secreta STD
(Spacetime Defenders) iniciada em 1859 pelos três amigos: Hippolyte
Léon, Michael Faraday e Charles Robert Darwin. Graham Bell acerta as
últimas configurações do seu aparelho telefônico ligado a torre,
Thomas Edison liga as chaves disjuntores abastecendo o sistema de
energia elétrica e Nikola Tesla ativa o raio que faria da torre uma
antena ao cosmo. Sentados frente ao aparelho, Graham Bell com um cone
junto a boca como microfone gira o botão potenciômetro a procura de
uma frequência de resposta sempre repetindo em inglês a cada
tentativa: -Alô, aqui é Graham Bell falando de 1889, este é o
primeiro experimento de ligação temporal, há alguém do outro lado
da linha? Tentaram isso por algumas horas até que desistiram.
Sentados nas poltronas compartilhando algumas doses de whisky,
charutos e ideias Edisson diz: -Não entendo, deveria funcionar,
estamos fazendo alguma coisa errada.
Eiffel:
-Acho que tomamos o devido cuidado para cada uma das etapas.
Tesla
se estica para encher novamente o copo, coloca um punhado de gelo:
-Vamos recapitular, sabemos que o laser de ferro está acima da
velocidade da luz, sabemos também que qualquer sinal partindo dele
pode se comunicar com a torre esteja ela no passado ou no futuro.
Bell:
-E que a torre está conectada ao aparelho telefônico que fora
instalado hoje porém só poderíamos falar com este aparelho a
partir do hoje.
Tesla:
-Correto. –Mas é preciso que haja quem atende-lo.
Eiffel:
-Quanto a isso creio que não seja o problema pois as reuniões
semanais da STD migraram para cá desde abril e continuarão
acontecendo enquanto a sociedade existir.
Bell:
-E mesmo que sejam apenas nas sextas, ao percorrer as frequências no
aparelho acabaríamos inevitavelmente esbarrando com alguma possível
conexão de um dos nossos futuros encontros aqui.
Tesla:
-O que nos leva a crer em apenas duas possibilidades; ou por força
maior não mais nos encontraremos, ou meu raio está refletindo na
atmosfera e com isso perdendo velocidade. -E para isso precisaremos
dispara-lo do espaço.
Edison
arremessa e estilhaça seu copo na parede de metal do apartamento:
-Essa merda de corrente alternada está ferrando com tudo, não
teríamos problema em atravessar a atmosfera com uma poderosa carga
de corrente contínua! Tesla se assusta e exprime na poltrona por uma
fração de segundos, mas logo se ajeita, levanta e diz: -Meu querido
a supressão do raio é que o define como laser de ferro, sua
infinita dobra é a única coisa capaz de quebrar a velocidade da
luz! Bell querendo apaziguar o ambiente pergunta: -Mas quem seria
qualificado para esta última peça do quebra-cabeças? Eiffel, de pé
e copo meio cheio apoiado na palma da mão e na barriga, olhando pela
janela ao fundo o horizonte do sol: -Creio que vamos precisar
encontrar nosso quinto elemento.
Bell
pergunta baseado na metáfora personificada de cada um deles: -Qual
elemento? -Ar ou madeira? E Nicola Tesla com feições de “eureka”
sorri malandramente dizendo: -Os dois!
Paris,
4 de dezembro de 1891 (2 anos depois).
Caminhando
depressa dentre as carruagens na rua de paralelepípedos enfeitada de
natal e dos parisienses nas calçadas, Alberto Santos Dumont com 18
anos, esbaforido, mas de elegância, finalmente chega na oficina de
Armand Peugeot. O jovem inventor apaixonado pela cidade luz se apoia
num poste para pegar fôlego por alguns segundos e logo adentra a
fábrica de automóveis.
-Está
pronto? Pergunta o jovem Dumont em impecável francês referindo-se
ao automóvel Tipo XV que encomendou a Peugeot nas suas
especificações projetadas pelo próprio jovem inventor. O
brasileiro ainda não sabe, este será o primeiro automóvel de motor
a explosão do Brasil, e você não vai encontrar nos livros de
história dizendo que se não fossem as modificações elaboradas
pelo jovem inventor esta máquina nunca teria virado moda. Alberto ao
ver o automóvel montado parece ficar hipnotizado pela criação,
logo acende o motor pela parte de trás, senta no carro, desengata a
manivela bem devagarinho e fascina-se pelo acelerar da carruagem
solta do passado e puxada pelos cavalos da Belle Époque. Saindo do
galpão, enfrentando as movimentadas ruas Parisienses, sendo alvo de
olhares e ostentação, em seu pulso toca um despertador estridente,
Alberto logo olha para o relógio e se desespera por estar atrasado
para um decisivo compromisso com a História. Acelera rumo a natalina
Torre Eiffel.
Inglaterra,
4 de dezembro de 1891 (Ao mesmo tempo).
Enquanto
isso na Inglaterra, no auditório principal da Leicester School of
Art alunos esperam ansiosos pelo palestrante convidado Dom Pedro II
que leciona literatura comparada na universidade de Paris em seus
anos de exílio. Cada vez mais e mais alunos de diversos cursos se
amontoavam até mesmo de pé no auditório, quando o anúncio dele.
Ele! Um dos homens mais inteligentes da sua época, fluente em 14
idiomas e 27 dialetos, dentre eles Sânscrito e Tupi Guarani, nosso
nerd brasileiro Dom Pedro II.
Um
respeitoso silêncio impecável acama o ambiente num extenso lençol
de retalhos, dos olhares por vezes tão estudados nos livros mais
pesados, mas que no instante, estaria no discurso do mais respeitado
Rei.
No
gogó Pedro se apresenta de boa noite e saúda o nome da instituição
no som da sua voz que nunca alcançou a maior idade, e também nunca
lhe foi problema.
-Boa
noite plateia, sou Pedro, professor de Literatura comparada. –O que
é literatura comparada? –Apenas o explicitar do comum de duas? –O
diferente delas? –Seria mesmo tão simples assim resumir esta
matéria? “Lit. comp.” -Homem eu te digo, é a ciência que não
só analisa duas obras da mais distinta uma doutra, como
principalmente às funde na grande obra da vida comparada à ela
mesma, como loop, como um laço, como eterno retorno.
Com
um súbito gesto descobre os dois cavaletes revelando um cartaz em
cada.
-Ao
meu lado direito temos a obra Also sprach Zarathustra, título
original em alemão, mas que em inglês significa: Assim falou
Zaratustra de Friedrich Nietzsche.
-Já
na esquerda, a de não menor valor: A máquina do tempo do vosso
compatriota H. George Wells. –Entrem meus convidados, por favor. E
entram pelos seus respectivos lados até seus púlpitos situados cada
um em frente ao cavalete do seu livro, H. George Wells e Friedrich W.
Nietzsche, sob intenso aplauso.
Pedro,
no centro do palco: –De antemão agradeço a súbita presença do
senhor, Nietzsche, para quem não sabe era esperado hoje a presença
do escritor Júlio Gabriel Verne, que por algum motivo recusou
debater com Wells. A plateia não esconde suas irônicas gargalhadas.
Nietzsche:
–Boa noite presentes, Wells. Em sua obra antes mencionada, ficou-me
uma questão. -Por que razão um gênio inventa a máquina do tempo
na literatura sem explicar seu funcionamento? –Fica inevitável
pensar que no seu principal tema, a relação de poder entre as
classes, a explicação ou mesmo discussão dela seja tão
aprofundada quanto sua máquina. A plateia ri e Wells também.
Paris,
4 de dezembro de 1891 (Ao mesmo tempo).
Nisso,
em Paris, já no quase último degrau da torre Eiffel, Dumont toca a
campainha para o apartamento do engenheiro que o recebe junto aos
outros três Spacetime Defenders.
-Desculpem-me
pelo atraso.
Tesla:
-Não se desculpe, trouxe o balão?
Dumont:
-Sim, preciso da vara de bambu.
Bell:
-Tome.
E
o jovem põe na ponta da torre um pequeno balão a hélio. Os membros
da sociedade fecham a porta, Bell checa o aparelho telefônico, Tesla
seu sistema, e Edisson liga os disjuntores.
-Prontos?
Dumont
olha para o pulso junto aos amigos acompanhando cada tiquetaquear do
ponteiro mais fino até seu toque, que toca em sincronia com o
relógio que prendia o balão no alto da torre, o libera como o
ballet do tempo, uma pena que desafia os céus, subindo e subindo.
Dentro dele há consecutivos balões menores um dentro doutro como
boneca-russa. Em cada balão, o ponto de ruptura, sempre em sua base,
quando rompido pela pressão atmosférica a cada cem quilômetros,
impulsiona o balão menor para cima, como um estilingue em efeito
cascata até o cosmo. Já o último balão do tamanho duma bolinha de
gude prateada serve de ponte para o laser de ferro disparado.
-Alô,
aqui é Graham Bell falando de 1891, este é o primeiro experimento
de ligação temporal, há alguém do outro lado da linha?
-Alô,
aqui é Graham Bell falando de 1891, este é o primeiro experimento
de ligação temporal, há alguém do outro lado da linha?
-Alô,
aqui é Graham Bell falando de 1891, este é o primeiro experimento
de ligação temporal, há alguém do outro lado da linha?
Quando
de repente é respondido: -Alô.
Todos
se olham por meio Segundo e…
-Hello,
this is Graham Bell talking about 1891. It's a great pleasure…
Do
outro lado da linha: -Alô, quem está falando. (Em português).
Santos
Dumont arregala o olho, arranca o cone da mão de Graham Bell e
responde:
-Alô,
aqui quem fala é Santos Dumont, de 1891, é um imenso prazer
conversar com você, por gentileza, de que época você está se
comunicando?
O
outro lado da linha parece dar uma gargalhada e responde: -Ok Santos
Dumont, então não invente o avião pra não ser usado na primeira e
segunda guerra mundial, o senhor me desculpe, mas eu tenho mais o que
fazer. E bate o telefone.
Inglaterra,
4 de dezembro de 1891 (Ao mesmo tempo).
No
auditório principal da Leicester School of Art na Inglaterra...
George
Wells: -...então só para concluir, essa visão Maniqueísta do
médico e o monstro, erguendo a bandeira desse monstro infinito, só
não é diferente do médico que de tão perfeito para a sociedade eu
pergunto, qual sociedade? No meu livro eu abordo essas diferentes
óticas de sociedade cada qual em sua época entende amigo Nietzsche?
Dom
Pedro II o interrompe: -Bom, infelizmente temos que encerrar o debate
pois do contrário, não teremos tempo para as perguntas.
Plateia:
-Ahhhh...
Pedro
diz com amor no coração: -Dificilmente, sinceramente, na minha
humilde opinião, dificilmente alguém conseguirá um dia superar a
originalidade destas duas obras primas. Tanto no futuro como no
passado. Diz olhando para Wells fazendo o público entender a piada.
Pedro:
-Alguém tem alguma pergunta?
Uma
porta no palco, atrás de Pedro se abre e sai um garoto de 14 anos,
confuso e desconcertado ao se deparar com um auditório abarrotado de
gente.
-Oi,
desculpe, entrei no lugar errado.
A
plateia o aplaude e Pedro para não perder a compostura diz: -O
senhor tem alguma pergunta para fazer?
Todos
riem pelo humor afiado do ex Imperador.
O
garoto se chega de pé do ouvido e sussurra: -Por favor, que dia é
hoje?
Dom
Pedro, fala em voz alta: -Que dia é hoje? -Homem eu te digo, hoje é
dia quatro meu filho.
Em
efeito retardado um holofote ilumina o novo personagem que diz em
sussurro: -Mas de que ano?
Nesse
instante Pedro muda as feições e por alguns segundos gela
esquecendo todo o resto, como se um silêncio súbito pairasse em sua
mente.
O
garoto: -Desculpe, não quero atrapalhar. O jovem volta, e encosta a
porta.
Pedro
a reabre e atravessa, encontra o adolescente de costas em um outro
ambiente de mata fechada sob altivas árvores.
O
garoto se dá conta que esqueceu de bater a porta, ao virar bate de
frente é com um Dom Pedro II pasmo.
Inglaterra,
26 de dezembro de 2893 (1.002 anos depois).
O
garoto: -Meu senhor, por que me seguiu, já tenho problemas o
suficiente.
Nisso,
pelo vento a porta fecha e some ficando só a maçaneta que cai no
chão.
Linda:
-Por que você trouxe um homem de lá?
O
garoto: -Desculpe Linda, o lugar tava lotado, acho que não tinha o
Peugeot.
Cris:
-Como vamos levá-lo de volta agora que a porta bateu?
Sol:
-Não deve ser ninguém muito importante. –O senhor fala minha
língua? –É importante para o seu tempo?
Linda:
-Para amor, que pergunta besta!
Pedro:
-Homem, eu te digo, na verdade, já fui. -Onde estou? –Que lugar é
esse?
E
antes que puderam responder, um bando de índios captura-os e os
amarram rapidamente jogando-os pelas árvores. Linda e Sol
conseguiram fugir do abrupto rapto nessa selva.
De
árvore em árvore na velocidade indígena paisagens muito antigas,
cobertas pela mata, ruínas de outras eras são facilmente
reconhecidas pelos reféns na viagem... Palácio de Buckingham e uma
roda gigante, a estátua da Rainha Elisabeth II, tudo coberto pelas
distantes copas das árvores.
Ao
chegarem nas gordas caldeiras que de tão ácidas quase não foi
preciso esforço para desfazer as amarras dos cipós que se
misturavam no molho. Iludidos por lanças a permanecerem na água em
fervura, Pedro, Cris e o garoto (Eloi), olham um para o outro quase
que no zerinho ou um discutindo calados a hora do pânico; quando
Pedro arregala agora mais o ouvido que o olho: -Eu estou entendendo o
que eles estão falando! –É Tupi.
Cris:
-Pelo amor de Zeus homem, fala alguma coisa então!
Dom
Pedro: -Anauê, Xá Xará Pedro (Olá, meu nome é Pedro).
Os
índios param com o trabalho nas lenhas e prestam atenção.
Pedro:
-Xá Potar Perudá (eu quero amor).
Ao
ouvir, um indiozinho corre em disparada até a oca mais distante,
adentra respeitosa e medrosamente dizendo: -Pajé, os alimentos estão
falando.
Pajé:
-Como ousa perturbar meu sono pra isso Gabriel? -É claro que falam,
eles sempre falam.
Indiozinho
Gabriel: -Mas em tupi Pajé?
Neste
instante dois índios em cima da caldeira retiram Pedro e seus amigos
dela com bambus de alavanca pelos sovacos e já no tocar do chão são
presos pelos pescoços e obrigados a seguir até o Pajé que já
havia saído da oca e já estava sentado em seu trono, bocejando.
O
Pajé o olha de cima a baixo: -Eu sei quem você é Pedro.
-Homem
eu te digo, como sabe quem sou? –Pois nem sou daqui.
-Tu
és o Rei do futuro, filho. –Os brancos fizeram a porta do tempo,
trancaram e jogaram a chave fora.
Pedro:
-O senhor deve estar me confundindo com outro Pedro, não?
Pajé:
–O filho do branco é preto, Boitatá se chama, o filho do tempo o
último homem que nunca deveria ter nascido. –O líder dos Locks,
ele é o Mor Lock, o maior Lock que existirá. –Nós índios
sabemos de tudo, somos escravos do tempo e senhores do trempo. –O
trempo está todo amarrado.
Cris
sussurra para Eloi: -Você não está vendo quem ele é?
Eloi:
-Não.
-Não
lembra da foto na última aula de história?
Pajé
se levanta e dá ordem de soltura para os alimentos da tribo.
Já
secos, pelas indiazinhas, Pedro, Eloi e Cris recebem a benção do
Pajé.
-Tome
meninos, que façam boa aventura. Põe na mão de Eloi a maçaneta e
lhe calça o relógio no pulso.
Pajé:
-Mas tudo tem um preço, apenas dois de vocês podem ir embora.
Pedro:
-Como assim só dois?
Eloi
pergunta: -O que o Pajé disse?
Pedro:
-Que apenas dois de nós estamos livres.
Cris:
-Por Zeus, não!
O
Pajé segura Cris e diz: -Este fica aqui!
Eloi
segura a maçaneta com a mão do relógio e a porta reaparece.
Eloi
então tranquiliza Cris: -Fique calmo eu vou só pegar o espelho
retrovisor esquerdo, deixar o velho e já volto em instantes, Linda e
Sol já devem estar trazendo ajuda.
Cris
reluta, mas em vão, seja sincero, você discutiria com índios do
futuro?
Pedro
sem entender direito decide perguntar a Eloi, de curioso: -Por que do
relógio e maçaneta?
Que
lhe responde: -O miolo do relógio é criado juntamente com o da
maçaneta, só há um relógio para uma porta, é uma segurança como
em um jet-ski, caindo dele nas águas do tempo a porta te espera em
sincronia. E obviamente Pedro II indaga sem resposta: -O que é um
Jéte esqui?
Então
Eloi gira a maçaneta gritando “-Passado randômico!” e ao abrir
a porta que deu numa pista de corrida de fórmula 1, um dos carros a
estilhaça em pedaços zunindo a maçaneta, o carro, Pedro e o
adolescente à pista do outro lado da porta do tempo.
Donington
Park, 11 de abril de 1993 (pela TV) 10 dias para o plebiscito
monárquico..
[-Alô
amigos da Rede Globo. –Primavera na Inglaterra, início do mês de
abril é assim mesmo, anteontem chuva forte durante os treinos,
ontem, sol durante os treinos e hoje o tempo amanheceu coberto, já
choveu e parou inúmeras vezes, agora temos uma névoa sobre o
circuito, muita humidade, a pista está molhada, mas neste exato
momento não chove, até há uma claridade ali no céu, uma ameaça
de o sol conseguir romper essa camada de nuvens, essa camada de névoa
principalmente que vem se colocar sobre o autódromo, mas é
exatamente isso, primavera na Inglaterra, início do mês de abril,
ninguém sabe o que pode acontecer na corrida...]
[...Ayrton
Senna está prestes a ultrapassar a linha de chegada...]
[-Meu
deus! -O que é isso na pista? -Duas pessoas estão no meio da pista
fazendo bater Damon Hill da Williams-Renault, ferindo ambos...] [...-
Senna sai da sua McLaren e retira um idoso e uma criança da pista
antes do choque com Alain Prost...]
São
Paulo 11 de abril de 1993 (30 minutos depois)
No
apartamento de Augusto liberato, mais conhecido como Gugú, o
apresentador se arrumava para ir ao SBT quando ao ligar a TV se
depara com a notícia do acidente que repercutia repetidamente em
todos os canais: Duas pessoas apareceram no meio da pista de Formula
1 em pleno grande prêmio e não se sabe ainda seus estados de saúde.
A campainha toca e Gugú a atende ajeitando a gravata, era Elisa como
se não tivesse envelhecido um só dia, dessa vez vestida, mas entra
na sala já tirando completamente a roupa deixando Gugú se engasgar
de vergonha: -Calma o que é isso? -Você nem sabe se eu gosto.
Elisa:
-Você é meu passaporte.
Gugú:
-Passaporte para o que? E antes que pudesse refletir leva um tiro no
meio da testa de um revólver 38 nas mãos de Elisa que já nua põe
a arma de volta na bolsa e tira dela o smartphone, se holograma de
Gugú, pega as chaves do apartamento, sai e tranca a porta com o
cadáver dentro e a TV ligada na reprise de Chaves.
Brasil,
12 de abril de 1993 (pela TV) 9 dias para o plebiscito monárquico..
[-Genial,
fantástico, sublime, os ingleses hoje se desmancham em elogios a
Ayrton Senna depois da humanitária derrota de ontem em Donington, já
com a corrida ganha, para retirar uma criança e um idoso que
subitamente apareceram no meio da pista e da névoa.- A séria
imprensa da Inglaterra caprichou nos adjetivos. -O jornal The
Guardian chamou Senna de mestre de todas as superfícies humanas, o
tabloide Daily Mail disse que na pista é o homem que não tem mais
nada a aprender, já o influente Independent destaca que a primeira
volta de Senna no grande prêmio da Europa entrou para história do
automobilismo ao deixar para trás quatro adversários incluindo o
rival Prost, em uma manobra perfeita, Senna parecia estar
ultrapassando caminhões em uma autoestrada, e na última volta sua
bandeira quadriculava humanidade. -O dia seguinte do herói de
Donington foi passado em um ambiente ao qual ele já está bem
acostumado, zepelins e zepportos. No começo da tarde o zepelim da
Varig já estava pronto a espera das duas vítimas que Ayrton fez
questão de encaminhar ao melhor hospital da Terra, em São Paulo, já
que o sexagenário necessitava de uma imediata cirurgia. O dono do
show da formula 1 em Donington Park provou não ser campeão somente
nas pistas. ]
[Senna:
-Existem certas coisas na vida que com a dificuldade elas tem um
sabor maior, uma mulher charmosa, difícil, sempre tem um gosto
melhor na hora da conquista, tenho certeza de que este senhor vai se
recuperar e voltar com tudo, mas dessa vez na arquibancada. -Uma
derrota como essa, em condições como ocorreu, ela tem um valor
superior, ela tem um significado maior, é por isso que ela marcou e
vai ficar no meu coração pra sempre.]
[-Senna
deixava a Inglaterra depois de uma das mais brilhantes derrotas da
formula 1 em todos os tempos. -Ayrton Senna embarcou no zepelim.
Ainda nesta semana ele pretende finalmente acertar o contrato dele
para o resto da temporada com a McLaren, embora, abalado. ]
[Senna:
-Sou um homem temente a Deus e acredito que isso foi um sinal.]
Brasil,
13 de abril de 1993 (pela TV) 8 dias para o plebiscito monárquico..
[-Boa
noite. -Está começando mais um Jornal Nacional. -Parece até coisa
de ficção científica, mas o sexagenário que apareceu no meio da
pista de fórmula 1, este domingo, pode ser Dom Pedro II,
desaparecido em 1891. -Seria uma estratégia de marketing adotada
pelos que defendem a restauração da monarquia que será votada no
plebiscito popular esta quarta-feira?]
Brasil,
14 de abril de 1993 (pela TV) 7 dias para o plebiscito monárquico..
[-Boa
noite. -Está começando mais um Jornal Nacional. -Está confirmado,
exames revelam que o sexagenário é mesmo Dom Pedro II, uma
verdadeira multidão espera no zepporto de Congonhas, onde irá posar
o zepelim. -Uma comoção nacional divide o Brasil entre os que
apoiam e os que não apoiam a volta de Dom Pedro II ao trono.]
[-Sebastianistas
relembram que Dom Sebastião teria simplesmente sumido em 1578 e
aguardado até os dias de hoje...]
[-Mas
quem poderia ser o menino encontrado junto do imperador?...]
Dizem
que há um livro escrito sobre tudo ao final do universo e que
somente seu escritor pode dar o parecer final sobre as coisas do
homem, pois é, não estou exatamente ao final dos tempos, mas por
algum motivo que desconheço, Brasil é o centro do universo... Toda
história do homem está atrelada diretamente à brasilidade. Num
passado não muito remoto, restaurar a monarquia teria sido a melhor
solução para as enfermidades do país, hoje posso afirmar isso. O
problema sempre esteve nos seus seguidores que tentaram restaurá-la
reforçando valores religiosos como quem esculpe uma moral de barro.
Estes esquecem do que foi o segundo reinado, tal qual o magnânimo,
liberal, uma república coroada. Restaurar a monarquia no Brasil é
pensar fora da caixa e ter como valor, apenas ética, pois esta nada
mais é que um acordo de cavalheiros iguais.
Não
posso seguir a narrativa desta história sem lhe contar o mito do
Macaco:
Há
500 mil anos atrás, onde um dia seria a praça em frente aos arcos
da lapa, no centro do Rio, que nesta era do gelo somava-se ao
continente africano, nasce o primeiro Homem. Fruto de uma árvore
genealógica repleta de incestos, ele nada se distinguia dos outros
macacos exceto pela anomalia genética que o faria, não importa o
contexto ou possibilidade, achar a vida sempre um pouco
insatisfatória. Os primeiros sinais de inteligência apareceriam em
sua nova espécie apenas em alguns milhares de anos à frente,
enquanto isso o primeiro homem ocupava-se em assassinar todos de sua
comunidade pelo simples fato de serem diferentes, exceto Eva, com
quem procriou e teve dois filhos. Todos os animais precisam se
adaptar ao meio e estaguinam, mas nunca o Homem. A aranha que
constrói a delicada porém complexa teia, a faz ridiculamente igual
por centenas de milhões de anos.
Os
dois filhos do Homem foram os primeiros a dividir o universo pois
apenas o Homem pode desafiar o Homem e sendo assim, Abel foi morta
por Caim. Desolado e sozinho na existência, Caim saiu
desesperadamente à procura de outros macacos, e esta é a terceira
fase do ciclo do homem, para mim a mais bela, a catarse do genocida.
Em
sua quarta fase, o Homem coloniza o universo, como um vírus,
qualquer outro animal que evolua ao ponto de “saber que sabe” é
considerado humano, pois tua alavanca evolutiva foi o insatisfatório,
seres assim são espalhafatosos, de fácil percepção, infelizmente
o Homem está sozinho no universo inteiro pois nunca percebemos
outro, posso dizer com ganho de causa. Mas em 2613 um temponauta
revelou ao mundo o documentário com imagens filmadas no passado de
Adão, Eva, Caim e Abel, apresentando ao mundo “O mito do Macaco”.
Finalmente o Homem aprendeu a diferenciar um problema real de um
virtual. Por exemplo, fome é um problema real, mas estar
insatisfeito em qualquer contexto e hipótese para sempre, é um
problema virtual e deve ser combatido como quem está parando de
fumar, com racionalidade e lógica. Nasce daí o Homo sapiens sapiens
sapiens, aquele que sabe do porque que ele sabe que sabe, e pode
transcender a sede do insatisfatório no DNA, esta é a quarta fase
do ciclo do homem. Infelizmente este cinegrafista temponauta deixou
acidentalmente e desapercebidamente cair sobre os restos mortais de
Abel e de todos os outros macacos assassinados por Adão, uma pílula
azul; É um medicamento que concede imortalidade, porém seu uso é
costumeiro apenas em idade adulta uma vez que estas pílulas quando
ingeridas, ou em contato com uma ossada, torna o tal corpo,
eternamente estagnado na idade de 25 anos, seu uso cura e imortaliza
o paciente. Neste caso, reviveu o DNA de Abel fundido aos outros
macacos chacinados por Adão. Ela era então a primeira mulher humana
e o primeiro humano revivido, o inconsciente coletivo de uma
comunidade, bestial, ignorante e vingativa. Metade Homem, metade
Macaco e metade Cobra. Abel evoluiu ao longo das eras, não por
darwinismo, mas como uma Deusa perpassou toda a história humana até
se tornar em um futuro muito distante, o maior dos Locks, Mor Lock.
Para os índios da antiguidade, Boitatá a serpente de fogo, em
culturas passadas chamada de Cronos, Monstro do lago Ness, Yeti, Pé
grande, Slanderman, o último homem, o mesmo mencionado em “Assim
falou Zaratustra”.
Caro
leitor, você deve estar bastante confuso neste ponto do livro.
Embora não tenha vindo dizer às flores dos frutos, eu falei que
precisava começar pelo início mais cronologicamente plausível e,
sem ironia intencional tive de citar Cronos, mas vamos então agora
ao outro início desta aventura.
Norte
da África, 4 de agosto de 1578
As
tropas estão enfileiradas e Dom Sebastião monta em seu cavalo
bravamente a galope furiosamente em direção ao inimigo, porém um
nevoeiro toma conta do ambiente imediatamente. Praticamente cego o
jovem Rei de Portugal, sem herdeiros, estanca o galope seu cavalo
começa a suar frio. Seu exército estava invisível mas um vulto o
circulava ágilmente.
-Quem
és? Apareça-te!
O
vulto continuava a brincar com o cavalo do Rei.
Dom
Sebastião, numa tentativa desesperada enfia sua espada na névoa e o
rosto de Boitatá aparece num susto.
Planetoide
Hebe Camargo, 25 de dezembro de 2893 (1315 anos depois).
Como
pena na água, submersa, flutuante, Eloi dormia em seu quarto
perfeitamente inundado. Ele, diferente de mim, não precisava de
oxigênio nem nada se não só mais 5 minutinhos que sua mãe não o
presenteara, ao estourar sua grande bolha flutuante nas palavras:
-Acorda, já estou saindo e você não pode ficar sozinho em casa,
vai logo pra sua aula.
A
água nem chega a tocar o piso, se dissolve no ar, diferente do
garoto que, nú, se amacia no chão.
Ainda
nu, assim como seu pai e mãe no que poderia ser chamado de mesa de
café da manhã, com toda naturalidade da moda de sua época, ainda
havia café.
Pai:
-Bom dia filho. Cumprimenta enquanto olha fixamente a parede branca.
-Bom
dia pai, já estou indo mãe.
Mãe:
-Espera, dormiu bem?
Eloi:
-Mais ou menos, sonhei novamente com aquilo.
Mãe:
-A quilo o que?
Eloi:
-Ah em cima dum cavalo, levantava meu elmo, via uma névoa e acordei,
nunca lembro direito.
Os
pais discretamente se entreolham.
Mãe:
-Tá certo filho, não esquece o relógio!
Eloi
se dirige para a cabeceira flutuante ao lado da porta da sala, vê
dois relógios de pulso, o da sua mãe e o seu, o pai já estava com
o dele calçado. Eloi veste seu pulso e imediatamente aciona o
comando de voz –Heavy metal. Pedindo ao aparelho que toque este
estilo sonoro em sua mente. O jovem gira a maçaneta e ao atravessar
a porta, é tele transportado para sua sala de aula no planeta
Brazil, ao som mental de “Caught somewhere in time” de Iron
maiden:
“Se
você tiver tempo pra perder”
“Uma mente aberta e tempo para escolher”
“Você se importaria de dar uma olhada?”
“Ou poderia me ler, como um livro?”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“Posso tentá-lo a vir comigo”
“Que se dane, realize seu sonho”
“Se eu dissesse que te traria aqui”
“Você iria, ou ficaria com medo?”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“Não tenha medo, você está a salvo comigo”
“Salvo como qualquer outra alma pode estar”
“Honestamente... Apenas deixe-se ir!”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
Professor: -Atrasado de novo Sebastião Hartdegen.
“Uma mente aberta e tempo para escolher”
“Você se importaria de dar uma olhada?”
“Ou poderia me ler, como um livro?”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“Posso tentá-lo a vir comigo”
“Que se dane, realize seu sonho”
“Se eu dissesse que te traria aqui”
“Você iria, ou ficaria com medo?”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“Não tenha medo, você está a salvo comigo”
“Salvo como qualquer outra alma pode estar”
“Honestamente... Apenas deixe-se ir!”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
Professor: -Atrasado de novo Sebastião Hartdegen.
Sebastião:
-Professor, peço mais uma vez que me chame pelo nome social Eloi.
Professor
responde com olhar sarcástico: -Ta certo, sente-se!
Música
mental:
“Como
um lobo em pele de cordeiro”
“Você tenta esconder os seus pecados mais íntimos”
“Todas as coisas que você fez de errado”
“E eu sei a que lugar você pertence”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“Você tenta esconder os seus pecados mais íntimos”
“Todas as coisas que você fez de errado”
“E eu sei a que lugar você pertence”
“O tempo está sempre ao meu lado”
“O tempo está sempre ao meu lado”
Professor:
-Alguém pode me dizer quem é este sujeito?
Eloi
rapidamente sentado, rapidamente também já ajusta o relógio para
conseguir ver a projeção mental na parede branca atrás do mestre.
-Sim
Linda, diga.
Linda
sem dúvida faz jus ao nome, e até o seu levantar de dedo pedindo a
palavra é charmoso.
Linda:
-Dom Pedro Segundo Professor.
-Exato,
parabéns Linda! –Mas quem foi Dom Pedro II?
Aluno
aleatório 1: -Um ditador.
Aluno
aleatório 2: -Ele não explorou o Brasil professor?
Aluno
aleatório 3: -Não seu burro, esse foi o português!
Música
mental:
“Te
faço uma oferta, e você não tem como recusar”
“Você só tem a sua alma a perder”
“Eternamente... Deixe-se ir!”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso agora nesta indecisão!”
“Você só tem a sua alma a perder”
“Eternamente... Deixe-se ir!”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso em algum lugar no tempo”
“Preso agora nesta indecisão!”
Professor:
-Como? –Como os portugueses poderiam ter explorado o Brasil?
-Brasil
era um estado de Portugal, é como se por exemplo a Inglaterra
explorasse seus planetas, ou Brasil e Portugal suas galáxias.
–Entende? –Não há exploração quando se é dono do que estaria
roubando. –Eu tenho um apartamento no setor Carmen Miranda do
oceano pacífico, e moro aqui na Argentina do Brasil, ora, quando eu
trago balgas para meu apartamento daqui eu estou explorando minha
outra casa?
Aluno
aleatório 1,2,3...: -Não... Realmente.
Confundido
com o som da banda britânica surge um pensamento na mente de Eloi
“-Nunca ouvi tanta imbecilidade” “-Pra ser sincero nunca senti
diferença entre esquerda e direita, sei que sou muito jovem, meus
pais tem séculos de idade, meu professor um pouco menos, mas
caramba, consigo diferenciar um discurso de ódio de uma aula de
história”.
Aluno
aleatório 1: “-Eloi“. Chama por telepatia o melhor amigo que faz
girar o pescoço em direção ao outro lado da sala.
“-E
aí Cris”
Cris:
“-você vai na festa na cúpula da Linda?”.
“-Tá
louco? –Nem fui convidado, ela nem fala comigo”.
Cris:
“-Comigo também não, mas geral vai”.
“-Ah
não sei Cris, você sabe, meu corpo, vão ficar me zuando. -Ai como
eu odeio esta época”.
Cris:
“-A festa vai ser com roupa, precisa ir vestido”.
Eloi:
“-Meus pais nunca vão deixar eu usar roupa, muito menos fora de
casa”.
“-Pega
alguma coisa da sua mãe”.
Eloi:
”-Cara, minha mãe não usa roupa há 600 anos”.
Professor:
“-Estou por acaso atrapalhando o pensamento de vocês com a minha
aula, Cris, Eloi?“.
Cris:
-Não professor, desculpe!
Risos
da turma...
Professor:
-Alguém quer me responder por que, na prática, as duas línguas
faladas pela humanidade são o português e o inglês?
Aluno
aleatório 2: -A aliança luso-britânica é a mais antiga do
universo.
Professor:
Parabéns Sol, mas só este dado não explica.
Linda
levanta novamente seu lindo dedinho dizendo: -Tem a ver com a
Babelização, né professor?
Professor:
-Exato princesa, olhem todos pra parede.
Desculpe,
como narrador-personagem falhei em não descrever tão corretamente o
cenário desta sala de aula. Pois bem, ela está situada num dos
milhões de andares desta agulha urbana, você deve estar se
perguntando o que é uma bendita agulha urbana, trata-se de um prédio
bem fino, composto por apenas 4 apartamentos por andar e milhões de
andares pra cima e pra baixo. A partir de um certo andar, as janelas
são proibidas de serem abertas, são vedadas e este era o caso da
sala de aula de Eloi que só podia ver por elas, um vasto campo de
mata nativa e ao fundo, quase que imperceptíveis como um fio de
cabelo contra a luz, outras duas ou três agulhas urbanas solitárias
equidistantes. Como se o homem nunca tivesse pisado neste planeta.
Não existem veículos civis nesta época, só existem portas,
janelas e a vasta natureza humana.
Professor:
-Nesta projeção aqui na parede podemos ver as três castas da
humanidade, no topo temos os Locks, não sabemos quem eles são, tudo
o que sabemos é que eles vivem num futuro muito, muito distante. Não
sabemos sequer se são humanos, mas o principal...
E
a Turma em uníssono responde: -É que a partir da data “D”
nenhum temponauta consegue passar...
Professor:
-Eu sei que vocês já estão cansados de saber disso, mas por que
nenhum temponauta consegue, por mais que tente cruzar esta
determinada data?
Eloi:
-Os Locks interferem e moldam os acontecimentos históricos de modo a
preservar sua existência futura.
Professor:
-Exatamente! –E estes temponautas são chamados de Spacetime
Defenders, não é princesa?
O
professor termina a frese olhando e apontando com as duas palmas das
mãos para Linda Zaratustra.
-Linda
é filha de dois ilustres STDs, reis do tempo, e isso faz da
coleguinha de vocês uma princesa de verdade. -Isso nos leva a
próxima casta, a dos monarcas temporais, uma sociedade com mais de
mil anos de história e que se não fosse ela, não saberíamos de
nada nem do nosso futuro nem muita coisa do nosso passado enquanto
humanidade. –Hoje conseguimos viajar de um ponto a outro do
universo instantaneamente, por exemplo uma viagem que leva 10 milhões
de anos. –Toda nossa noção de tempo é baseada na segurança de
que esse futuro existe, se eu quiser fazer essa viagem hoje e passar
dois dias relaxando do outro lado da galáxia, eu posso ir na boa,
mas quando voltar terão passado 20 milhões de anos e dois dias, e
todos vocês terão vinte milhões e 14 anos de idade, entende como
tudo isso é louco? –Para mim terá passado apenas 2 dias. -Quando
a humanidade descobriu a cura da morte há quase um milênio atrás,
ela não fazia ideia de que curar o câncer, a coisa na qual estava
mais empenhada a fazer na época, não se limitaria apenas a curar a
maldita doença, mas sim controlar o tumor e impedir a morte de
células e sua duplicação falha em todo nosso organismo de forma
planejada.
Neste
momento o aluno aleatório número três põe no colo de Eloi um
objeto retangular que tinha passado de aluno a aluno.
Cris:
“-Toma ai, me agradece depois“ (Telepatia).
Eloi
para Cris: “-Que isso cara? –Tá maluco?”.
“-Não
disse que estava sem roupa pra festa? –É uma relíquia lá de
casa, um smartfone, vai hologramado pra festa cara, ninguém vai
perceber”.
Eloi:
“-E como eu vou chegar em casa com isso?”.
“-Mas
tu é burro mesmo não é? –Põe na cintura, vai hologramado de
você mesmo só que nú”.
Professor:
-Em terceiro plano nas castas humanas temos nós, reles imortais,
pessoas comuns. -Mas por que eu dei essa volta toda? –Este ano
estamos completando mil anos da revolta da armada que aconteceu lá
no Rio de Janeiro. –Essa foi a primeira tentativa de restaurar a
monarquia no Brasil.
O
professor passa um compilado de vídeos na parede, dentre eles
comerciais da campanha monárquica do plebiscito realizado em 1993.
–Mil
longos anos, muita coisa aconteceu, o Brasil realmente se tornou o
país do futuro detentor de metade das galáxias do universo na sua
política milenar de braços abertos, mas ainda hoje tem quem defenda
a volta da coroa, 900 anos depois deste plebiscito. -Estou
distribuindo a vocês estas relíquias. O professor distribui algumas
cópias raras de Triste fim de Policarpo Quaresma.
Professor:
-Alguém já leu?
Eloi:
-Professor, desculpe, só uma pergunta, quem é essa desse vídeo?
A
turma toda faz um “ê” do tipo quem satiriza o interesse
repentino de um adolescente por uma mulher, já deve ter acontecido
igual em sua época de colégio. Eloi num misto de constrangido com
curioso é respondido pelo mestre: -Essa ai foi Cissa Guimarães,
garota propaganda do plebiscito monárquico, mas retomando a linha de
raciocínio, Policarpo Quaresma é um patriota ferrenho e acaba por
lutar contra a revolta da armada. –Por fim alguns dos seus colegas
desertam, fugindo e sendo presos, Policarpo então, por defendê-los,
é condenado e vira mártir do seu próprio ideal o qual nunca
entendeu.
-Meninos,
é muito importante escolher um lado. –Mais importante ainda é
entender a própria escolha. –Policarpo mesmo tão estudioso, nunca
entendeu qual lado político realmente defendia seus ideais; se a
república da espada, oportunidade única do novo Brasil, ou a
revolta da armada, defensora do período mais estável que o país já
viu.
-O
que vocês acham disto?
Sol:
-Eu acho que infestar metade do universo de malditos clones vai ser
um absurdo, não é à toa que os Locks se trancaram naquele futuro!
–Mor Lock deveria destruir o Brasil no passado!
Cris:
-Que absurdo cara!
Professor:
-Nananinanão, deixe o aluno se expressar como queira, é direito
dele.
Linda:
-Amorzinho, eu sei que os clones são mais puros geneticamente do que
nós normais, mas será uma solução viável pra popularização do
universo.
Sol:
-Só eu vejo que eles são umas aberrações? –Já nascem imortais,
e sem precisar de oxigênio!
Linda:
-Por isso amor, é mais barato que modificar geneticamente um nascido
de mulher.
Cris:
-Eu acho que antes de fazer clones, deveríamos reviver os mortos
para colonizar o universo.
Sol
diz: -E os custos pra isso? -Ahhh vá!
Professor:
-Calma todos, vamos recapitular a aula do mês passado, olhem a
parede, sabem quem é este?
Linda:
-Santos Dumont professor.
Cris:
-Ele inventou o café né?
-Isso
mesmo princesa, e não Cris, o café é árabe, ele descobriu a fusão
do grão de café. –Essa história é linda.
O
professor senta no que poderia ser uma escrivaninha, cruza a perna,
olha pro alto e no segundo respiro começa, apontando a projeção:
–Este carinha aí foi o responsável por a Alemanha ter ganho a
grande guerra mundial, os planadores dos irmãos Wright nem se
comparavam aos dirigíveis de aço desse inventor brasileiro aí,
certo que não foi uma guerra muito longa, durou 3 meses, mas nenhuma
antes na história teria movimentado todo o planeta Brazil, na época
chamado de planeta Terra. –Quando os Estados Unidos quebraram sua
bolsa, foi a Alemanha quem os ajudou a se reerguer.
Eloi:
-O que são estados unidos?
Professor:
-É a Inglaterra, a América do norte ficou um breve tempo
independente, foi até um país, mas não durou muito. –Continuando,
daí esse sujeito da foto, um ano depois da famosa primeira ligação
telefônica ao futuro, da torre Eiffel, perde o pai e se vê obrigado
a retornar para as fazendas de café da família em Minas Gerais para
tocar o negócio. -Isso o fez profunda depressão longe de Paris, a
cidade que amou, até que olhando para um grão de café em sua palma
da mão perdido nos pensamentos, ele grita (-Eureka!), como nosso
gênio não poderia ter pensado nisso antes? -E correu para seu
laboratório testar sua hipótese.
Linda:
-Que hipótese?
Professor:
-A de que um único grão de café feito nas condições do solo
brasileiro, quando colidido, sua fusão geraria mais energia que
necessária para iluminar uma cidade inteira. –O café nunca
poderia ser utilizado para fins bélicos pois não funciona como uma
explosão comum daí nasceu a explosão curta e a humanidade parou de
precisar de hidrelétricas, para assim entrar no período Steam Punk
que vai até a invenção da internet quando inaugura o Cyber Punk.
Eloi:
-Sou completamente apaixonado por esse tempo professor. –Veículos
nas ruas, cidades, roupas e próteses movidas a grãos e engrenagens.
–A era de ouro do vapor com o puro aroma do café.
O
bipe mental toca sinalizando que a aula acabou por hoje, todos fazem
uma fila na porta para se teletransportarem um a um às suas
respectivas residências.
Na
fila Eloi causa de ficar logo atrás de linda, nos amassos com seu
namorado Sol. Cris vai se metendo de meio a meio na fila até Eloi e
pergunta: -E ai, bora?
Linda
para de beija-lo, olha pra trás e confirma a pergunta: -Você vai na
minha festa né Eloi?
Eloi:
-CCClaro.
Cris:
-Uhul isso aí! –Vou te ensinar a usar esse celular. Fala isso
ajustando o aparelho na cintura de Sebastião. –Pronto, agora você
está hologramado de nu, isso esconde o aparelho pro seus pais.
O
casal viaja pela porta, Cris e depois Eloi, pra casa, não antes de
olhar ao fundo os exemplares do livro nas mesas sendo recolhidos um a
um pelo professor.
Desta
literatura comparada que narro, este seria o segundo livro de apoio,
juntamente com “Os Lusíadas”.
A
viagem de Sebastião, apesar de instantânea para o adolescente, leva
8 horas/luz até seu planetoide. Neste planetoide o esquema é o
mesmo, agulhas urbanas como manda o regimento e quilômetros e
quilômetros de terra árida em volta sem atmosfera. Eloi mora 15
milhões de andares sob o solo. Vestido holograma de nú chega a
tempo da última refeição, se senta no que poderia ser um banco.
-Como
foi seu dia filhote?
-O
mesmo de sempre mãe. –Mãe, andei pensando, eu sei que não sou um
clone, não tenho poderes cinéticos, se eu não tenho umbigo, só
posso mesmo ter sido revivido, poxa mãe, por que você e o pai não
querem me contar quem eu fui?
Mãe:
-Arre, lá vem você de novo com esse assunto! –Nesta casa não
somos tribalistas e nunca seremos, o passado não importa!
-Mas
eu amo o passado, mãe! -Não aguento mais viver assim, é tudo um
nada, eu não respiro, eu literalmente não respiro! Bate o pé no
chão e a porta do seu quarto.
Quase
que por pouco Eloi esquece que está hologramado, mas seu smartphone
treme teu holograma estranhamente junto às paredes do quarto e pula
da cintura se transformando num mico leão dourado de pelúcia
amarelo de fofo.
Os
dois se olham apavorados.
Mico:
-Não, não, não! –Isso é um pesadelo smartphônico.
Eloi:
-Quem é você?
-Eloi,
eu sou o Mobi, só um minuto preciso acessar a internet!
Eloi:
-Desculpe, menores de idade não podem usar internet, faz mal a
formação do cérebro.
-Não
chore Eloi, seus pais não te deixarem passar para a academia é o
menor dos seus problemas.
Eloi:
-Como sabe disso tudo? -Como sabe meu nome?
Mobi:
–Consegui acessei a rede. –Não, não, não, está tudo errado, a
história está toda, todinha errada! -Santos Dumont não inventou o
avião de novo!
-Como
assim?
Mobi:
-Eloi, estamos em loop infinito, está tudo se repetindo em laço!
Eloi:
-É fogo, eu sei como é isso, todos os dias parecem iguais.
Mobi:
-Fogo! -É isso, eu tenho medo de fogo! -Como não pensei nisso
antes? -Eloi, preste atenção, temos pouco tempo; eu não consigo
impedir o pitie! Sua mãe bate na porta já a abrindo fazendo Mobi
entrar em piripaque, se desologramar e travar.
A
mãe senta-se ao lado do filho, observa as paredes do quarto: -Olha
querido, eu sei que tenho séculos a mais que você, mas acredite, eu
e seu papi planejamos muito a sua vinda.
-Você
quer dizer revinda né? –O que é? –Vocês têm medo que eu
pesquise sobre mim na internet? –Eu não posso nem usar a porcaria
da internet!
-Não
é isso filho, é o princípio, viver preso ao passado é viver preso
em loop infinito. –O eterno retorno, o dragão devorando o próprio
rabo.
Eloi:
-Povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la.
Mãe:
-Você realmente acha que é assim que se conhece a ti mesmo? –Acha
mesmo que é tão simples? –Olha que eu tenho 600 humildes anos de
vida para questionar. –Se eu aprendi alguma coisa com estes 6
séculos foi que nada é pra sempre... nada é pra sempre filhote,
todos morremos por dentro algum dia.
Sua
mãe retorna à sala, já é hora de dormir, Eloi tenta reativar o
tal do Mobi mas nada, o bicho amarelou. Decide encher a bolha e
dormir.
Planeta
Brazil (Antiga Terra), 26 de dezembro de 2893 (No dia seguinte).
Na
cúpula do alto de uma das agulhas urbanas acorda em sua imensa bolha
cor de rosa, Linda Zaratustra ao som dos violinistas da orquestra
nacional tocando “Manhã de carnaval” de Baden Powell.
A
cúpula utiliza os quatro apartamentos do andar nos últimos 10
andares de altura e, em sua única parede, dentre tantas relíquias,
um pôster do filme Barbarella, um revólver 38, as duas maçanetas e
seus relógios de Donner dos seus pais pendurados no chaveiro.
Servos:
-Linda , sua roupa para a festa de hoje já está esterilizada.
Linda
responde saindo da bolha e caminhando na mais bela beleza nua: -Muito
obrigada, minha mãe respondeu o recado?
Servos:
-Sim, infelizmente não poderá comparecer. E antes que a deixassem
sozinha na cobertura, uma das empregadas lhe diz: -Ah Linda, feliz
aniversário. Que Linda agradece, com a cabeça.
Um
tucano brinca nos ares da cúpula enquanto Linda segura sua xícara
de café matinal, senta no que poderia ser uma cadeira e em sua
frente no que poderia ser chamado de mesa surge uma mensagem
hologramada automática, dita por um avatar bem aparado: -Feliz
aniversário Linda Zaratustra, parabéns pelos seus 15 anos, agora a
senhorita é considerada maior de idade e cidadã universal. A
senhorita tem direito de acessar a internet, viajar sozinha, praticar
arte e voluntariado, mas também possui deveres e proibições. É
terminantemente proibido, punido com pena de morte, sair de qualquer
agulha urbana, viajar no tempo sem autorização, utilizar roupas ou
qualquer acessório se não relógio de pulso ou balgas e assassinar
outro ser humano. Caso tenha a infeliz ideia de tirar a vida de outro
semelhante, duas coisas irão acontecer. Diz o holograma com um certo
olhar sarcástico: -Primeiro, você não vai conseguir matar o
infeliz, um Spacetime defender aparecerá para impedi-lo, e segundo,
você ficará preso em loop neste fatídico momento por toda a
eternidade pois seria injusto punir a Linda Zaratustra do futuro e
não a do instante da infração. Como seu primeiro dever, a
senhorita precisa optar pelo partido político que irá lhe
representar neste século.
-Do
lado direito da mesa temos o partido Nazista e do lado esquerdo o
partido Antropofágico, escolha.
Devo
dizer, Linda escolhe um deles naquele momento, a verdade é que nunca
soube em qual ela clicou, do ponto de vista que tomei conhecimento de
toda essa aventura, e você caro leitor entenderá mais para frente,
este é o que chamamos na literatura de ponto cego uma vez que tal
passagem nunca foi determinante ao enredo. Como dito antes, repito,
não vim a este texto dizer às flores, mas sim dos frutos.
Após
um banho demorado, daqueles que podem se confundir às lágrimas,
Zaratustra calça o relógio que estava jogado no painel do Peugeot
tipo XV no meio do loft e atravessa a porta pra aula de estudos
sociais. Linda senta no primeiro assento vago.
E
é neste instante que eu, narrador personagem, faço parte da
história.
Professor
2: -Seja bem-vinda princesa, estávamos aqui falando um pouco sobre
física antes de entrar no assunto de hoje. -Bom, retomando, é um
erro acreditar que estamos em três dimensões quando sempre vivemos
nas quatro, é também um erro acreditar que dimensões são
paralelas, bem, não sou muito bom em física, sou de humanas, mas
isso é tão básico quanto a teoria da relatividade de Einstein.
-Dimensões são conjuntos, um dentro do outro, a quarta dimensão
que é o tempo é a de mais alto nível da nossa realidade, portanto,
de menor manipulação, ou seja, não temos controle, só podemos
deixar o tempo caminhar. -A quinta dimensão é um pouco mais
complexa e está um nível acima, se chama trempo ou em inglês
trime.
O
professor descalça seu próprio relógio e o segura dependurado.
-Esse
relógio em apenas três dimensões precisa estar eternamente parado,
o relógio estático tem apenas três dimensões, seu movimentar
precisa do tempo.
O
professor então bate na pulseira do relógio que começa a se
movimentar como um pêndulo.
–Imagine
que um sujeito volte no tempo e mate o próprio avô antes mesmo do
seu pai nascer, um paradoxo correto?
Turma:
–Sim, claro.
-Pra
tu cara pálida, que está imerso a quatro dimensões. –Na linha do
trempo, seu avô nasceu, cresceu, teve seu pai, seu pai teve você,
você voltou no tempo, matou seu avô que assim como a água quente
vira vapor, o universo resolve uma ruptura com a maior naturalidade
possível, é um terceiro erro acreditar que o universo esquece que
algo ocorreu, não, o universo sabe que você voltou no tempo e matou
seu avô, para ele tudo isso é passado na linha do trempo
independente da ordem cronológica da linha temporal, as variáveis
que devem ceder é você, seu pai e seu avô. -Seu avô simplesmente
morre por uma bala disparada por ninguém, a existência e vida do
sujeito está no passado da linha do trempo, a partir deste momento o
trempo segue sem você. –Será que isso é mais difícil de
entender do que chegar antes mesmo de partir, quando acima da
velocidade da luz?
Eloi,
sentado logo ao lado de Linda pergunta ao mestre: –Então é assim
que se volta no tempo? –Correndo acima da velocidade da luz?
Professor:
2-Deveras, mas o que importa é que o trempo é uma realidade onde se
é possível caminhar nas duas vertentes do tempo, a linha tremporal
da quinta dimensão é toda acorrentada em loops infinitesimais, e
isso é normal, como a pulseira deste relógio, um pêndulo à
procura do equilíbrio, mas sempre diminuindo o território no
universo das outras quatro dimensões inferiores, até sucumbir à
existência. -O tempo é em corrente contínua e o trempo em corrente
alternada.
Sol,
do outro lado da sala de aula: -O que é corrente alternada?
E
o professor segura a pulseira do relógio forçando-o a parar de
fazer o movimento de pêndulo.
Machado
de Assis, eu, o professor, disse: -A busca por este equilíbrio
precisa ser natural para que um universo tenha tempo de vida, isso
que eu fiz, forçando o relógio a parar, é o que uma porta do tempo
faz quando aberta dentro dela mesma, um universo espelhado nele
mesmo, uma balança com forte mesmo peso dos dois lados, em outras
palavras um universo em perfeito equilíbrio é um universo zerado,
logo sem dimensões. –Por isso crianças, em nossa sociedade só os
temponautas tem o poder de utilizar as portas do tempo, isso é muito
sério, assim como só o exército tem acesso às naves e armas. -Só
por curiosidade, olhem para a parede, que objeto é esse?
Alunos:
-É balgas professor.
Machado
de Assis: -Isso aí. E eu falo com um riso irônico na voz: -Se um
dia vocês se depararem com uma porta temporal aberta dentro dela
mesma, apenas balgas consegue salvar e reequilibrar o universo.
Cris:
-O que acontece mestre?
Eu:
- As duas portas formam uma bolha que quando estoura recriam o
universo tal como estava.
Linda
diz a Eloi por telepatia: “-Você não acha essa aula um saco?”
Eloi:
“-Eeeu acho sim.”
Linda
respira fundo, inicia uma trança no cabelo pelo ombro direito e Eloi
te pergunta: “-Está animada para sua festa?”
Linda
olha para os olhos castanhos de Sebastião e antes que pudesse abrir
a boca eu a interrompi: Eu: -Linda Zaratustra, eu sei que hoje é um
dia especial para vossa majestade, mas estudos sociais será muito
mais especial para a senhorita num futuro próximo! (eu disse com
aquele jeito de professor furioso com seu pouco poder de prender a
atenção).
Eu:
-Turma, Linda hoje faz 15 anos de idade, ela acordou e teve que fazer
um voto de confiança dentre os dois partidos que representam a nossa
sociedade neste século; o partido Antropofágico ou o partido
Nazista. –Vossa majestade, que está tão atenta a minha aula
poderia explicar aos seus outros colegas qual é a proposta destas
duas ideologias sociais?
Linda
começa a falar e o professor a interrompe: -Não, não, de pé aqui
na frente, por gentileza princesa.
Linda
se levanta levantando também seu doce perfume ao olfato de Eloi.
Pigarreia
a garganta de tímida e: -Bom... O Nacional socialismo é um partido
racista que defende a guerra dos clones e seu extermínio imediato,
baseando-se na fobia da capacidade genética superior dos clones, já
o Partido Antropofágico defende o povoamento do universo com uso dos
clones.
Eu
perguntei: -Deveras, e quem é e foi Adolf Hitler?
Linda:
-Ele foi um grande pintor há uns mil anos atrás, quis se congelar
na época e foi, por isso, um dos primeiros revividos antes da
tecnologia de revida tumular. Linda: -Hoje preside o partido e pode
ser o primeiro presidente revivido do universo.
Eu:
-Só uma curiosidade turma, vocês sabem qual foi a primeira classe a
ser revivida em nossa história pela tecnologia de revida tumular?
–Não? –Ninguém sabe? –Múmias, as múmias de até 6 mil anos
atrás foram as primeiras. -Vossa majestade sendo filha de STDs já
deve saber o resultado do plebiscito, não é? –Posso ser um mero
imortal, mas sou do tempo em que o único vício adulto permitido não
era balgas!
E
com este climão na sala de aula, Cris quebra o silêncio dizendo: -
Aee o professor já foi maior contemporâneo. E a turma cai na
gargalhada afinada ao bipe mental do término da aula.
Machado:
-Turma, amanhã será aplicada a prova de admissão para a academia
Spacetime Defenders, em toda a galáxia populada inclusive aqui,
desejo sorte a vocês. -O tema da redação como sabem é Brasil
antigo. -A dica que dou é bem simples, tentem se imaginar no Brasil
república pouco antes da internet, não façam a prova amanhã,
sejam a prova.
Na
fila para a porta de volta à casa, Cris se aproxima eufórico: -E
aí, vamos hoje?
Eloi:
-Não cara, eu já disse que não posso ir a essa festa!
Cris:
-Ah que isso, vai ser legal, dizem que da cúpula dá pra ver a
curvatura do planeta, vamos!
Eloi
fala “casa” ao relógio olhando seriamente para o amigo e sem
palavras atravessa a porta.
Já
noite, ao chegar em sua sala depara-se com os gritos de sua mãe e
Mobi hologramado pedindo desculpas pelo descuido.
Mobi:
-Desculpe Eloi, eu destravei e quando vi ela já estava aos
berrinhos.
-Eu
não avisei que não quero ver você com essas drogas? –Quantas
vezes te avisei que não somos tribalistas?
-Desculpa
mãe, foi o Cris.
-Ah
é, então quer dizer que se o Cris se jogar da janela você também
vai junto?
-Não
se preocupe mãe, ele também mora sepultado bem no fundo da terra,
na Lua!
-O
senhorzinho não me responda heim, esse seu amigo é um lunático
mesmo!
-Mãe.
-Você
está de castigo! –Não vai mais à escola até ser adulto! –Não
vai mais sair do seu quarto, é do quarto pra cozinha e da cozinha
pro quarto!
-Isso
é um absurdo, então eu vou ficar sem estudar é isso?
-
Você tem todo o tempo do mundo pra isso! –Agora vá para o seu
quarto.
-Mas
mãe, eu quero ser um temponauta, a prova de admissão é amanhã!
-Eu
não quero nunca mais ouvir esta palavra, já pro seu quarto!
Fecha
a porta do quarto de Eloi, abre a porta gritando ao relógio “lixo”
e o joga o Mobi fora.
O
mico leão dourado reaparece em um lixão de objetos em escala lunar.
Muito escuro, Mobi ascende seu sistema de infra-vermelho que por
força maior este é interpretado como sinal de ligar para um dos
bilhões de aparelhos obsoletos de áudio, vídeo e muiti-tarefas ao
seu redor que toca propagado pela atmosfera de gases fruto do
desgaste e acidez das velhas baterias, “O tempo não para” na voz
de Cazuza.
“Disparo
contra o sol”
“Sou
forte, sou por acaso”
“Minha
metralhadora cheia de mágoas...”
“Eu
sou um cara.”
“Cansado
de correr”
“Na
direção contrária”
“Sem
pódio de chegada ou beijo de namorada...”
“Eu
sou mais um cara.”
Os
micro-systems em volta parecem ter cara de pena daquele smartphone
que apreensivo rói suas unhas de macaco.
“Mas
se você achar”
“Que
eu tô derrotado”
“Saiba
que ainda estão rolando os dados”
“Porque
o tempo, o tempo não para...”
O
escuro de tão fino e frio até relaxa Mobi, se não o estrondoso
aparecer de Boitatá, ligado a este tempo por um de seus tentáculos
embora perturbadoramente fúnebre, sua presença já era infelizmente
aguardada pelo mico amarelo.
“Dias
sim, dias não”
“Eu
vou sobrevivendo sem um arranhão”
“Da
caridade de quem me detesta”
-Senhor,
eu imploro.
Boitatá
de voz cruel e irritantemente calma diz: - Mobi comprender a la vez,
se va a hacer esto tantas veces como sea necesario (Mobi entenda de
uma vez, irá fazer isso quantas vezes for necessário).
-Mas
senhora, já foram 4392 vezes, acredite quando digo que eu não posso
lhe servir!
-Eu
não sou útil, nada muda neste quadro há 1617 tentativas.
“A
tua piscina tá cheia de ratos”
“Tuas
idéias não correspondem aos fatos”
“O
tempo não para...”
-Oren
para que esto no es cierto, porque entonces se le atascado en este
loop para la eternidade (Reze para que isso não seja verdade, pois
então você ficará preso a este loop por toda a eternidade).
“Eu
vejo o futuro repetir o passado”
“Eu
vejo um museu de grandes novidades”
“O
tempo não para.”
“Não
para, não, não para...”
Duas
horas depois no quarto de Sebastião, sua mãe bate à porta. Eloi
não a atende, fica aquele silêncio de dois lados, ambos soterrados
a quilômetros de distância e sob toneladas de gente e terra
coordenada.
De
repente pisca de bolha no nada e cai ao lado de Eloi, Mobi. –Opa,
como você chegou aqui amiguinho? –Não importa, você precisa me
ajudar a fazer uma chamada pela internet.
Mobi
se conecta e deixa de ser holograma por alguns instantes para que
Eloi possa usa-lo como celular, que chama Cris em pensamento pelo seu
relógio.
“-Alo”
-Alo
Cris, eu vou.
“-Jura?
–Uau te encontro lá então.”
-Não
Cris, eu preciso de uma ajuda sua, minha mãe confiscou meu relógio.
20
minutos depois a porta da sala é aberta pelo lado de fora por Cris
que espera de quatro para não chamar a atenção do pai de Eloi, que
sentado olha estaticamente para a parede. Do outro lado do cômodo
está o quarto de Sebastião já de porta aberta hologramado do que
poderia toscamente ser chamado de invisível, tenta cruzar a sala
engatinhando. Quanto mais se aproximava das batatas das pernas do seu
pai, a controlada respiração se ofegava mais e mais até seu clímax
bem nas costas do velho com aparência de 25. Subitamente veio uma
quase que incontrolável vontade de espirrar de Cris que acredite,
fora imediatamente percebida por Eloi na fixa troca de olhares de
intenso clamor que “não, não, por favor não”, pensado!
No
que poderia ser chamado de criado mudo, um copo sobre uma trêmula
folha de plástico, um pedaço de rasgo do estofado que dançava no
ar que vinha do respiradouro. Toda tensão deste instante poderia ser
contada nesta dança, o rosto já avermelhado de Cris, as lágrimas
de canto de olho de Eloi e uma súbita tossida de seu pai que sai
imediatamente ao espirro do amigo. O tempo paira este instante,
tiquitaqueia até a certeza do despercebido que respira aliviado.
Chegando
à porta, os dois amigos cumprimentam as mãos de vitória e a
encostam pelo lado de fora com bastante cuidado, mas não antes de
quase a fechar ouvirem:
-Vê
se não vai fazer merda heim. Do pai. E pela corrente de ar bate,
fazendo já na cobertura de Linda Zaratustra, todos porem seus
olhares neles e consequentemente caírem na gargalhada pelo de
quatro.
Rapidamente
os dois se levantam, Cris está vestido de terninho, longa negra
barba, calvície, óculos fundo de garrafa e cutuca de cotovelo o
amigo que muda o holograma de tosco “invisível” para vestido,
infelizmente literalmente vestido de vestido vermelho com uma faixa
presidencial verde-amarela.
Mobi:
-Desculpe mestre, não funciono bem sob pressão, quer que eu mude
para qual fantasia? Eloi com aquela cara diz: -Não, não, se eu
mudar agora todos vão perceber que não é uma roupa de verdade.
Alguns convidados de copo na mão: -Caraca é a cara da Dilma olha!
–Hahaha. E Sebastião começa a cumprimentar os presentes assumindo
a zoação.
A
festa era verdadeiramente incrível, todas as quase 100 crianças do
planeta Brazil entre 14 e 15 anos ali certamente estavam nesta noite,
e algumas do entorno, como Eloi; ninguém poderia perder a
oportunidade de conhecer a cúpula da princesa Linda.
Eu
como narrador posso ser franco, nem as festas que fui do império
caberiam nesta.
A
cobertura era na verdade um Split de duas ligadas a um grande portal
teletransporte. No céu, numa metade poderia ver-se o sol do Reino
unido e na outra, todo azul do planeta Brazil (Terra), pois uma
cúpula situava-se na Inglaterra e a outra na Lua. Assim o dobro
espaço de uma cúpula que já é naturalmente um pouco mais larga
que os apartamentos inferiores, dava tamanho à esta festa de quinze
anos que por incrível que pareça, parecia já ter se iniciado há
um bom tempo. Mais incrível ainda foi, no subsequente apertar de
mãos dos meninos e beijinhos buchechosos das meninas na etiqueta de
Cris e Eloi, o apertar da mão do próprio Sebastião que sorrindo de
amarelo, vestindo um macacão jeans todo remendado diz: -Não se
assusta, calma. Num impossível calma do tipo espelho, Eloi acabara
de cumprimentar a si mesmo.
-Mas
como isso é possível?
-Cara,
a gente viajou no tempo! Falando um pouco mais baixo.
-Sério?
Que demais, e como é?
-Você
vai descobrir, Linda quis fazer uma reunião mais intimazinha antes
do grosso dos convidados chegarem, só com nós quatro da classe, vai
lá atrás da parede lá, ela te explica melhor.. ah.. e toma. E Eloi
entrega a si mesmo do passado um isqueiro zipo junto de uma piscada
de olho.
Cris
está entretido nos apertos de mãos explicando aos convidados sobre
sua barba e calvície:
-Meu
nome é Enéas! Reconheceu agora quem estou fantasiado?
Convidados:
Hahahaha!
Eloi:
-Cris, vem, temos que encontrar a Linda atrás da parede.
Não
existe festa de quinze anos sem música, na outra ponta da cúpula da
Lua havia uma suave banda estilo samba de partido alto. Eloi e Cris
chegam depois da parede e são abraçados por Linda Zaratustra: -Ai
desculpa, não te machucou não é?
Eloi:
-Não, mas o que é isso?
Linda:
-Ah é um microfone, estou fantasiada de Silvio Santos.
Cris:
E eu? -Sabe quem sou? –Te dou uma dica, 56!
Linda:
-Você é o doutor Enéas, e você deve ser Dilma Rousseff, certo?
Tião,
para não contrariar concorda sob todo tímido com a cabeça.
Eloi:
-Parabéns, feliz aniversário linda, oh quero dizer Linda, Feliz
parabéns Linda.
Linda
dá um risinho e pergunta: -E ai meninos, o que acharam do tema da
festa?
Eloi
responde: -Os Presidenciáveis. –Mas não estão todos aqui estão?
–Digo, fantasias a caráter.
Linda:
-Não mesmo, se fossem só todos os eleitos e somente até o seu
mandato “senhorita Dilma” (fala rindo) não caberiam nesta
cúpula! –Essa república é uma piada de mal gosto.
Eloi:
-Concordo, foram muitos tropeços, impedimentos e golpes ao longo da
república da lavada.
Linda
dá outro risinho e conta: -Olha, minha mãei deixou 4 passagens
abertas para meus colegas de turma poderem voltar ao tempo 1 hora
atrás, eu perguntaria se vocês aceitam, mas como já sei que sim,
por favor. E abre a porta do tempo apontando com a mão esquerda
espalmada sua gentileza.
Eloi
não acredita que finalmente viajará no tempo e não deixa dúvidas
deste sentimento em suas feições ao atravessar a porta para o outro
lado da parede com pé direito.
Chega
a vez de Cris que tropeça, ao tentar se segurar rasga o pôster do
filme Barbarella e deixa cair a pistola do prego que ao bater no chão
dispara um tiro acertando o pobre do tucano que voava.
A
festa para e o olha, Linda um tanto chocada por três segundos,
respira e acalma Cris: -Calma Cris, olha só, lembre-se bem agora que
vai voltar ao passado, não faça isso na próxima vez ok?
-Ok,
desculpa Linda.
Linda
fala rindo: -Nada, deixa isso pra lá, só não mate meu tucano de
novo tá? Empurra de brincadeira Cris pela porta dançando ao ritmo
da banda que voltara a tocar após o susto e a fecha quando
imediatamente volta a ser só uma maçaneta dependurada ao lado da de
sua mãe.
Planeta
Brazil (Antiga Terra), 26 de dezembro de 2893 (1 hora antes).
Do
outro lado da porta, Cris, Linda e Sol estão sentados no chão
prestes a abrir a caixa do jogo: 6 presidenciáveis e um assassino:
Sente-se Eloi, só faltava você. Disse Linda, sorrindo.
Eloi:
-Vamos jogar só com 4? Linda responde com a cabeça.
Eloi
tenta quebrar o gelo com uma piada: -Então serão três
presidenciáveis e um assassino.
Cris:
-Como que funciona este jogo?
Sol
o responde colocando uma carta na testa de Cris fazendo os outros
meninos rirem: -Esta carta que você não está vendo tem o nome de
um presidenciável, você pode fazer a pergunta que quiser quando a
roleta apontar pra você, o objetivo é acertar sua carta e não ser
morto, ou, se você for o assassino, matar todos sem ser descoberto.
Cris: -Ah entendi! E Sol subitamente põe um chip no smartphone de
Sebastião fazendo Mobi hibernar e Eloi ficar nú.
Sol
grita apontando: Olha, ele não tem umbigo!!
Constrangido
Eloi diz empurrando: -Você sabe que eu não tenho seu idiota, eu to
sempre pelado na escola!
Sol:
Calma cara, eu estou só brincando com você, é que na escola a
gente não pode te zuar.
Linda
diz de cara fechada: -Que desnecessário cara!
Cris:
-Concordo, ridículo! -Não zoe meu amigo só porque ele é um clone.
Eloi:
-Eu não sou um clone cacete!!!
Linda
fica em silêncio observando.
Sol:
-Ah não, então como você pode não ter nascido com umbigo?
Linda:
-Vamos parar com isso gente. Olha para Sol dizendo: -Já deu né? E
leva Eloi até algo que poderia ser chamado de armário, junto à
parede. Ela tira de dentro um macacão jeans todo remendado com um
brasão das cobras fumantes. Linda: -Tome, use isso, pertence ao meu
pai, ele usava ele quando estava cursando a academia.
Eloi
veste a roupa e guarda o isqueiro no bolso junto ao peito: -Seu pai
deve adorar ser um temponauta.
Linda
olha para Sebastião de uniforme e diz sorrindo: -Adorava… -Ele foi
chamado para uma missão e nunca mais pode voltar.
Eloi:
-Desculpe, eu não sabia. -Você sabe qual missão?
Linda:
-Meu Pai foi o Conde d’EU.
Eles
sentam e iniciam o jogo. A roleta aponta para Linda, que pergunta a
Eloi: -Eu me candidatei durante a guerra do Brasil? Eloi: -Não. A
roleta gira novamente e cai em Cris: -Eu sou homem? Linda responde:
-Sim.
Eloi,
agora, começa a perguntar mas é interrompido por Cris que diz:
-Morri! Fazendo todos olharem para ele com uma cara de ombros.
Eloi
pergunta a Sol: -Eu pertenço a Era Vargas? E Sol responde: -Sim.
Eloi tenta perguntar se era Vergas mas é interrompido pelos três,
lembrado de que só pode uma pergunta por vez.
Eloi
olha para a roleta para girá-la, mas de canto de olho percebe linda
dando uma piscada de um olho só para Sol, que antes de gritar
“morri!”, ouve Eloi desmascarando Linda: -Você é a assassina!
Linda:
-Sim, ah, perdi. Põe um sorriso no rosto e se levanta.
Eloi:
- E eu sou Getúlio Vargas. Tira a carta da testa e está escrito
“Getúlio Vargas”. -Vamos fazer o que agora?
Cris:
-Alguém trouxe balgas?
Sol
se dirige a Eloi e diz, cara, não estou conseguindo reativar seu
smartphone.
Eloi
diz: -Ah não é meu é do Cris.
Cris:
-Pode ficar pra você, não quero ser pego com objeto.
Eloi
olha para o amigo com cara de “ah, mas eu posso ser pego com
objeto”. Linda volta com cigarros.
Eloi:
-Cigarro? -É sério que vamos fumar? E cris responde: -Não seja
careta. Pegando e ascendendo um.
Cris:
-Linda, você perdeu, agora tem que pagar uma prenda.
Linda:
-Ta certo, o que vocês querem saber?
Os
três imediatamente perguntam: -Como funciona a viagem no tempo?
Linda:
-Gente, vocês sabem que eu não posso dizer, já sou maior, posso
ser morta.
Sol:
-Bom, tecnicamente você pode ser pega por fumar, mas sabe que nada
funciona direito no Brazil.
Eloi:
-É Linda, nos conte vai, nunca iríamos te delatar.
Linda:-Ok
vou contar como funciona exatamente uma viagem no tempo.
Eloi:
-Sério Linda?
Linda:-Sim,
sim, na verdade este é até um segredo muito bobo sabe? –O
processo é mais simples do que parece. –Logo esse segredo, chega a
ser até uma piada de tão óbvio.
-Lembra
da caixa de Arquimedes que o professor explicou na aula de física?
Eloi,
Cris e Sol dizem: -Sim.
Linda:
-Bem, a história não foi bem essa. –Quando Arquimedes estava na
banheira, o que lhe afligia não era só a morte, mas sim a eminente
perda para a humanidade do seu descobrimento recente.
Eloi:
-Qual descobrimento?
Linda:
-Arquimedes foi o pai dos STDs, ele havia descoberto apenas baseado
em conceitos sobrepostos, que se um indivíduo viajasse à cima da
velocidade da luz ele chegaria no ponto de origem antes mesmo de ter
partido. Tal ideia morreria naquela manhã se ele não descobrisse a
resposta para algo tão idiotamente inútil como, quanto realmente de
ouro puro teria na coroa do rei.
Linda:
-Sabe qual é o pior disso tudo?
Eloi:
-Não.
-Eu
venho pensando nisso a semana toda, sou uma monarca e às vezes me
pergunto se nós reis do tempo não estamos cometendo o mesmo erro
com a coroa. -Enfim, Arquimedes sabia que seria impossível
ultrapassar a velocidade da luz, foi quando ele entrou na famosa
banheira e começou a pensar não em apenas quatro, mas pela primeira
vez na história da humanidade, em cinco dimensões!
Linda:
-Meninos, olha que simples de óbvio, estava na nossa cara o tempo
todo. –A quinta dimensão, o trempo, nada mais é do que a variação
do tamanho da unidade, quando ele entrou na banheira e viu que a água
transbordava, imediatamente imaginou no que aconteceria com o seu
corpo se essa água não pudesse transbordar. -Na hora idealizou uma
caixa perfeitamente vedada, talvez soterrada como um caixão, dentro
dela um gato e um tubo de bambu ligando a caixa até o mar. –Ora,
segundo a teoria dos vasos comunicantes a pressão da água do mar
comprimiria tridimensionalmente o gato fazendo dele um gato
miniaturizado. –E assim Arquimedes conseguiu criar o conceito
teórico de como alterar o tamanho de um objeto, não só a sua
posição no espaço e tempo, mas também seu tamanho e chamou essa
variável de trempo.
Linda:
-Arquimedes neste instante descobre a velocidade negativa que
acontece quando um objeto perde espaço no universo, ou seja, diminui
de tamanho. –Agora você imagina um objeto diminuindo de tamanho na
velocidade da luz.
Eloi:
-Sim, isso eu sei, é assim que se teletransporta uma pessoa, mas
precisa ser instantâneo pra não matar a pessoa, a porta miniaturiza
a pessoa em nível quântico, viaja movido por um feixe de luz onde o
tempo pausa, por estar viajando a 300.000 Km/s, e desminiaturiza
instantaneamente no outro ponto. –Assim a estrutura se mantém
intacta, é como passar rápido com a mão por uma chama acesa, não
queima.
Linda:
-Eu tô falando que está na nossa cara o tempo todo, você vai
surtar quando perceber. –Sabe o que foi um aparelho de ar
condicionado?
Eloi:
-Sim, meu pai me contou uma vez, tem um compressor que comprime e
descomprime rapidamente o gás, não é?
Linda:
-Exato, é impossível ultrapassar a velocidade da luz, todo corpo
aumenta de massa em grandes velocidades, por fim o corpo teria o
mesmo tamanho do universo e continuaria na velocidade da luz. –Porém
na velocidade negativa este conceito de proporção se inverte, mas
fica bem melhor de trabalhar.
Eloi:
-Tá e daí, mas o que tem a ver o ar condicionado?
Linda
põe um sorriso no rosto e explica: -Em uma constância muito veloz,
o corpo é miniaturizado na velocidade da luz e desminiaturizado à
1% da velocidade da luz fazendo sobressair mais a velocidade negativa
que a positiva e realimentando este ciclo até que “puf” é
possível romper a barreira da velocidade negativa da luz
estacionando este corpo em um tempo anterior ao que ele estava.
–Claro, tudo isso nem consegue chegar a ser percebido pelo
viajante, de tão expresso.
Linda
deixa-os boquiabertos e se distancia fumando.
Cris
pergunta a Sol: -Você fazia ideia?
Enquanto
Sol e Cris tossem e conversam sobre o gato de Arquimedes, Eloi se
aproxima do vidro da cúpula, na parte mais alta da borda, onde Linda
está sentada fumando.
Eloi
também senta e uma corrente de ar apaga o cigarro de Linda. Eloi
prontamente o reascende com seu isqueiro e os olhares se esbarram:
-Uau que massa, sim, a viagem, este processo ocorre muito expresso,
como acontece quando se atravessa uma porta, eu nem percebo.
Linda:
-Na verdade isso está acontecendo exatamente agora conosco, olhe pra
cima, estamos em baixo do portal.
Sebastião
olha pro alto e vê o dia e a noite ao mesmo tempo que sem querer
esbarra com o mindinho no de Zaratustra. Os dois decidem não se
olharem, fingir que não aconteceu e continuam admirando lado a lado,
um na Lua e a outra no Brazil.
Linda:
-Sabe, eu tinha uma queda por você no maternal.
Eloi:
-Eu? -Por que?
Linda:
-Você realmente não sabe o que é né?
Eloi
abaixa a cabeça: -Acho que sei, sou um clone, meus pais me
compraram.
Linda
se vira para ele e diz: -Não, desculpe dizer, mas clones não são
tão franzinos. E ri, fazendo Eloi sorrir também.
Linda:
-Você é um necromante.
Eloi:
-Como assim, o que é um necromante.
Linda:
-Sabe, eu sempre achei você inacessível, sempre tão calado, tão
distante.
Eloi:
-Você está brincando né? -Você é uma princesa!
Linda:
-E você realmente não faz a mínima ideia do que é.
Eloi:
-O que eu sou?
Linda:
-Você é um Lock, Locks são necromantes, Mor Lock é apenas o Lock
mais antigo, você deve ser alguém muito importante para ser mantido
em segredo aqui no passado. -Você não costuma sonhar com outras
vidas que teve?
E
antes que pudesse responder começam a chegar os convidados, logo em
seguida Cris e Eloi aparecem da primeira vez, Linda é obrigada a
atendê-los e explicar sobre o “voltar” deles para o início da
festa. Eloi corre para entregar o isqueiro zipo ao seu eu mais jovem,
mas não consegue chegar a tempo. Eloi e o Cris do passado atravessam
a porta quando o Cris atual tropeça, esbarra quebrando o retrovisor
direito do Peugeot tipo XV estacionada no meio da cúpula e cai sem
querer fechando a porta do tempo que imediatamente fica só a
maçaneta dependurada ao lado da outra.
Linda
grita em desespero: Não, meu Deus!
Cris:
-Desculpa Linda, eu conserto.
Linda:
-Você não entende, esta era a última passagem que minha mãe
deixou liberada e você fechou a porta. –Esse Peugeot era o xodó
do meu pai e dela, pertenceu a Santos Dumont e juntos meus pais
venceram uma importante batalha contra Mor Lock nesse automóvel.
-Gente desculpe, a festa acabou.
Os
convidados em fila um a um voltam para casa, ficando apenas os
quatro.
Eloi:
-Você não tem outro espelho aí para substituirmos?
Linda:
-Claro que não né? -Eles só existem no passado.
Cris:
-Então vamos lá pegar um e substituir antes que sua mãe chegue!
Sol:
-Você não ouviu, esta era a última passagem. Linda o interrompe
dizendo: -Não, não, Cris está falando sobre a viagem randômica.
Eloi:
-O que é isso?
Linda:
-É só para emergências, um temponauta sem a senha pode viajar
randomicamente para o passado ou para o futuro, basta girar a
maçaneta gritando “Passado randômico, ou futuro” depois é só
gritar “Voltar”..
Eloi:
-Então, eu vou pra você.
Sol:
-Não, se alguém tem que ir sou eu!
Cris:
-Não gente, eu quebrei, eu vou.
Linda:
-Não vou deixar vocês irem sozinhos, sou a adulta e se acontecer
alguma coisa com vocês eu ficarei presa eternamente.
Eloi
chega perto de Linda e diz: -Mas você é maior de idade, não pode
viajar sem permissão, estará infringindo a lei da mesma forma, isso
não é o mesmo que fumar escondido.
Linda
responde: -A responsabilidade é minha, eu tenho que resolver o
problema como uma adulta.
Eloi
vencido diz: Ok então…
Linda:
-Precisaremos sair da cúpula, estamos muito alto, vamos viajar do
chão.
Eloi:
-Meu Deus, esta história está ficando cada vez pior! E se
teletransportam para fora da cúpula onde encontram uma mata fechada.
Linda: -Vamos nos afastarmos um pouco da cúpula para não nos verem.
Alguns
minutos de caminhada e decidem abrir a porta, Eloi coloca o relógio
e gira a maçaneta gritando “Passado randômico”! Atravessa a
porta enquanto do lado de fora Linda e Cris discutem.
Eloi
volta à selva e logo em seguida Dom Pedro II também.
Eloi:
-Meu senhor, por que me seguiu, já tenho problemas o suficiente.
Nisso, pelo vento a porta fecha e some ficando só a maçaneta que
cai no chão.
Linda:
-Por que você trouxe um homem de lá?
Eloi:
-Desculpe Linda, o lugar tava lotado, acho que não tinha o Peugeot.
Cris:
-Como vamos levá-lo de volta agora que a porta bateu?
Sol:
-Não deve ser ninguém muito importante. –O senhor fala minha
língua? –É importante para o seu tempo?
Linda:
-Para amor, que pergunta besta!
Pedro:
-Homem, eu te digo, na verdade, já fui. -Onde estou? –Que lugar é
esse? E antes que puderam responder, um bando de índios captura-os
sendo amarrados rapidamente e jogados pelas árvores. Linda e Sol
conseguiram fugir do abrupto rapto nessa selva, correndo.
Linda:
-Por Zeus! -Precisamos pedir ajuda, isso já foi longe demais!
Sol:
-Vamos voltar para a cúpula e ligar para os seus pais.
Linda
usa seu relógio para voltar com Sol para a cúpula. Ela corre até a
parede e pega o relógio da sua mãe até que ouve um gatilho, vira
lentamente para trás enquanto calça o relógio de Donner e se
depara com Sol lhe apontando o revólver 38 que estava na parede.
Linda:
-Por que?
Sol
diz ao seu relógio: -Ligar para Hitler, e diz em alemão: -Senhor,
já temos o carro.
Linda:
-Você é nazista? -O que Hitler quer com o carro de Santos Dumont?
Enquanto
isso, naves em forma de suásticas surgem no céu e começam a
derrubar as outras agulhas urbanas em volta.
Sol:
-Precisamos exterminar estes clones, eles serão o fim da nossa
espécie Linda! -Venha comigo, venha para o lado vencedor!
Linda:
-Isso é loucura! -Não consegue ver o que está fazendo?
Sol
dá um tiro pro alto acertando o tucano que cai morto no chão e diz:
-Loucura é viver neste aquário! -Loucura é viver neste universo
limpo, sustentável e eterno!
Uma
nave nazista maior paira em cima da cúpula dos Zaratustras e uma
espécie de elevador desce estilhaçando o vidro e dele sai ao longe,
entre a névoa de emergência pela falta de atmosfera, Adolf Hitler
que começa, distante, a se aproximar em direção a parede.
Linda
encosta Sol de costas na parede: -Solano, como você pode prever o
futuro?
Sol:
-Em algum lugar deste carro, está escondido o único relógio capaz
de ultrapassar a data D, seus pais sempre tiveram a chance de matar
Mor Lock e não o fizeram. -Não sou um monarca como você princesa,
mas pense comigo, por que?
Linda
o beija profundamente, segura a maçaneta da mãe, gira e grita
chorando: -Passado randômico! Sol se desequilibra e cai do outro
lado do tempo, não antes de atirar no coração de Linda, que larga
a maçaneta e escorrega lentamente, manchando de sangue a parede
branca enquanto Hitler corre em direção do carro. Tudo começa a
ficar branco, mais branco que a névoa, como folha de papel, como se
a existência deixasse de existir, e Linda zaratustra diz: -Meu Zeus,
o que foi que eu fiz. E desaparece.
Oceano
atlântico 28 de agosto de 1922 (971 anos antes)
A
bordo do navio Massilia a caminho das festividades do centenário de
independência do Brasil republicano como herói nacional, Conde d'EU
o mais brasileiro dos franceses descansava em sua cabine sem perceber
o mar ficar cada vez mais negro e trovejante. Descendo lenta e
silenciosamente as escadas do convés até seguir pelo estreito
corredor e abrir com todo cuidado a porta da cabine, Elisa engatilha
o cão do seu revólver 38 a centímetros da cabeça do conde o
acordando de susto.
Conde:
-Quem é você?
Elisa:
-Eu sei o que você é.. -Você é um Spacetime Defender.
Quem
lhe contou isso? -Quem é você? -O que você quer?
Elisa:
-Você foi enviado sem volta para assassinar Solano Lopez, meu
marido, pois só um STD pode assassinar um imortal. -Eu quero uma
porta do tempo e você é a única pessoa contemporânea que pode me
contar onde e quando a próxima vai aparecer!
Conde:
-Então foi você quem tomou a outra pílula azul do relógio dele.
-Mesmo que eu soubesse, você realmente acha que eu lhe contaria?
Elisa:
-Não esperaria menos de um herói nacional. Diz com um certo
deboche. -Mas podemos fazer um acordo.
Conde:
-Desculpe madame, mas a senhorita nada tem a oferecer a um velho como
eu, se veio me vender a imortalidade saiba que não me interessa.
Elisa:
-Não a sua, mas posso oferecer a vida dos seus filhos e netos.
Conde:
-Você não seria capaz!
Elisa
solta inesperadamente uma deliciosa gargalhada como se ouvisse a
melhor piada do ano, ou de toda a vida, e enforca o francês,
gritando: -Me diga onde está a próxima porta!!!
Conde
d'EU mantém bravamente o silêncio até quase desfalecer por
completo, sem sequer perceberem o lado de fora do navio, que fechava
os confins da completa escuridão. O velho retoma a respiração
recostado na parede da cama olhando fixamente os olhos orvalhados de
Elisa que também o mutilava no mesmo olhar. A porta da cabine se
abre, e por ela, entra Boitatá, que diz: -No pierdas tu tiempo con
él Elisa, el conde no te va a decir nada. (Não perca seu tempo com
ele, Elisa, o conde não lhe dirá nada).
Elisa:
Então você é o famoso Mor Lock de quem Sol tanto me falou...
Boitatá:
-Sí, y tengo una oferta para usted. (Sim e tenho uma oferta para
você).
Conde
d'EU grita com sua pouca vóz: -Não ouça ela Elisa, não faça
nenhum tipo de acordo com essa cobra! -É isso que quer? Mostra uma
maçaneta e a joga para Elisa, mas Boitatá a segura no meio do
caminho com uma das suas patas e sem querer abre a porta. Conde d’EU
levanta a coberta revelando um revólver e dispara no miolo exato da
maçaneta da porta do tempo, estilhaçando-a por todo o corpo de
Boitatá.
Mor
Lock: ¿Que es eso? (O que é isso?).
Conde:
-Xeque mate!
Mor
Lock: -¿Dónde está el reloj de Donner de esta manija? (Onde está
o relógio Donner desta maçaneta?).
Conde
diz: -Seguro, onde você sequer pode imaginar. -Não é um relógio
comum, é a única arma capaz de lhe ferir em todos os.. Mas antes
que pudesse continuar, Boitatá se enrosca no pescoço do conde
calando-o pela morte.
Elisa
se choca, mas concentra-se na janela de possibilidade: -De qual
oferta estamos falando?
Boitatá
responde: -La próxima puerta. (A próxima porta).
Elisa:
-E o que vai querer em troca?
Boitatá:
-La cabeza de Sebastião Hartdegen... -Quiero Eloi muerto. (A cabeça
de Sebastião Hartdegen… Eu quero Eloi morto).
Mor
Lock rodeia Elisa em um círculo de escuridão absoluta e pergunta:
-Entonces, ¿tenemos un acuerdo? (Então, temos um acordo?).
E o laço de Elisa
Deserto
de Belém, 25 de dezembro no primeiro Natal
O
mundo não acorda sem ao menos uma xícara de Brasil, mas a segunda
maior bebida do mundo, símbolo de brasilidade pelo universo, veio de
terras bem distantes, um deserto muito longe de São Paulo, mas
igualmente famoso por uma deliciosa noite em específico. Três
camelos em paralelo deixam três linhas pelo deserto. A neve cai tão
fria e fina como a areia dos dias mais quentes. Cissa Guimarães, em
cima de um dos camelos, não resiste e toca em seu walkman nesta
noite feliz:
“Noite
feliz, noite feliz...”
Uma
nevasca se aproxima, mas já é possível avistar luz bem ao longe.
“Oh
senhor, Deus do amor”
Nos
outros camelos estão Dom Pedro II e Eloi.
“Pobrezinho,
nasceu em belém”
Pedro:
-Olhem, dentro daquela madona, a manjedoura.
“Eis
na Lapa Jesus nosso bem”
Os
três temponautas se aproximam da lapa onde estão Maria, José e seu
recém nascido.
“Dorme
em paz, oh Jesus...”
Um
frio ensurdecedor cala os seis pelo olhar.
“Dorme
em paz, oh Jesus...”
Cissa
retira os fones com olhos d’agua, se aproxima do berço e toca as
mãozinhas de Jesus que acorda.
Jesus
olha os seis ao seu redor e fala em português: -Oi gente, certinho?
Pedro:
-Jesus, viemos te resgatar.
Eloi
tira de dentro da camisa um artefato preso a um barbante envolto a
seu pesoço e mostra ao bebê.
Jesus:
-Isso é o que eu estou pensando?
Maria
fala alguma coisa em sânscrito que só Pedro entende e rapidamente
responde alguma outra coisa que a fez calar.
Eloi:
-Sim, este é o relógio de Donner, feito pelo próprio Hans Donner!
Jesus:
-Uau, tô passado, mas não serve de nada sem a porta certa.
Cissa
abre um sorriso e diz: -Gentem, mas nós agora sabemos qual é a
porta.
Jesus
animado pergunta: -Qual?
Cissa:
-Adivinha.
Dom
Pedro II: -Um dos arcos da Lapa.
Eloi
abre o relógio e tira do seu relógio de pulso uma pílula azul, a
põe na mão e estende até Jesus no berço: -Tome.
Jesus
segura, mas antes de por na boca pergunta: -E depois? -Vamos para
qual aventura? -O amálgama de Mautiner?
Eloi:
-Não, não, já estivemos lá, vamos para a data D!
Planeta
Brazil (Antiga Terra), 26 de dezembro de 2893 (De volta ao Pajé).
Ainda
em 2893, o Pajé se senta em seu trono convidando com a palma da mão,
Cris a se sentar na rocha em frente. Para surpresa de Cris o Pajé
diz em português: -Estou esperando este nosso encontro a minha vida
toda, você não faz ideia. O velho tira, de sua biblioteca logo ao
lado, um exemplar do livro “O Rei do futuro e o laço de Elisa”
que estava ao também lado de “O Rei do futuro e o amalgama de
Mautiner” e “O Rei do futuro e o relógio de Donner”, remove o
marca-livro sem deixar escapulir a página marcada e lê para o
adolescente:
“Norte
da África, 4 de agosto de 1578
Sebastião se aproxima
do nevoeiro e se depara com Boitatá. A primeira reação foi de
susto e medo, mas logo disse prontamente em cima do seu cavalo: -Por
Zeus! -Eu sei quem você é! -Medusa. E rapidamente se virou de
costas, baixando a guarda e tentando lutar pelo reflexo da sua espada
que obviamente não deu muito certo, sendo engolido por Boitatá com
o cavalo e tudo.”
O Pajé fecha o livro
“O Rei do futuro e o laço de Elisa” e diz a Cris que não se
continha nas lágrimas da perda do amigo: -Calma, calma, seu amigo
não vai morrer, é nesta parte que você entra amiguinho.
Cris: -Eu? Mas o que eu
posso fazer?
-Seu amigo é o único
inconsciente coletivo conhecido que não se tornou perverso nem
exprimiu todo mal da humanidade. Boitatá se alimentará de cada
individualidade humana e se trancará sozinha pra depois da data D.
Sebastião Hartdegen é o fio que não deixa essa porta bater, Mor
Lock não pode matar Eloi pois do contrário não haverá futuro para
nós!
Cris: -Uau! Eloi é um
necromante?
Pajé pega um estojo
cheio de pílulas azuis de várias idades, retira a de 0, uma seringa
e diz: -Sim, ele é, e você Cris, nascerá de novo há 2896 anos
como Jesus Cristo.
Cris: -Como assim? -Tá
louco? -Eu tenho uma vida!
Pajé: -Não se
preocupe, você será resgatado por Eloi e os outros reis magos,
tomará a pílula de 14 e voltará pra casa como se nada tivesse
acontecido. Diz apontando para o volume “O Rei do futuro e o
relógio de Donner”, e vai tentando espetar o garoto no braço.
Cristo: -Calma cara, me
explica direito antes, quem é você? -Zeus?
O Pajé da uma discreta
risada e diz: -Não, não... -Nem sou imortal como você, e disso
tenho inveja, digamos que eu seja só um cara que estava no lugar
certo e na hora certa, e que gosta de jogar xadrez com Boitatá.
Cristo: -Mas por que
você não toma uma destas. Diz apontando para o estojo.
-Isso ai? -Isso pra mim
é como água do mar, eu nunca seria aceito aqui como imortal e
também em nenhuma agulha urbana como índio. E espeta a agulha no
menino que grita mais de susto que de dor, lhe faz engolir a pílula
e subitamente é chupado pela seringa numa condição de pré-vida.
O Pajé chama Gabriel e
lhe dá as seguintes instruções: -Esta porta vai te levar até
Nazaré, lá use esta porta e relógio aqui para voltar, insemine
Maria com esta seringa.
São
Paulo, 20 de abril de 1993, 1 dia para o plebiscito.
Parei
aqui!